
'Shadows' estreia na quinta-feira e é o 14.º jogo da saga. O cenário foi desenvolvido em 3D, com cidades fortificadas e majestosos templos.
"Fizeram um trabalho realmente assustador, muito preciso na reconstrução", entusiasma-se Pierre-François Souyri, historiador francês especialista em Japão e consultor do jogo.
A empresa francesa criadora do jogo, Ubisoft, contratou uma dezena de especialistas e historiadores, principalmente franceses e japoneses, para deixar tudo mais parecido com a realidade histórica e evitar clichés.
"Falta de respeito cultural"
No entanto, uma escolha em particular tem gerado uma série de debates: Yasuke, um personagem negro ao serviço do senhor da guerra, Oda Nobunaga, com status de samurai.
Este título indignou uma parte dos jogadores japoneses, até ao ponto de fazerem uma petição para denunciar "um grave problema de precisão histórica e uma falta de respeito cultural", que reuniu mais de 100 mil assinaturas.
"O plano do jogo é afirmar que ele era um samurai", explica Souyri. "Não se trata de uma tese universitária"
"É um personagem que realmente existiu", insiste o especialista, "mas os textos que o mencionam dizem coisas difíceis de interpretar".
Em contrapartida, Yuichi Gozai, professor-adjunto do Centro Nacional de Investigação para os Estudos Japoneses em Kioto, considera que "nada prova que Yasuke possuía tais habilidades" de samurai.
"Yasuke foi conhecido pela sua cor de pele e força física", assegura este especialista do Japão Medieval, que considera provável que "(o senhor da guerra) Oda Nobunaga manteve Yasuke ao seu lado para o utilizar como um espetáculo".
As acusações de "apropriação cultural" ou de "insensibilidade" em relação à história de minorias étnicas ou religiosas têm sido habituais nos últimos anos em Hollywood e no mundo da arte e da literatura
No princípio, essas acusações provinham de círculos académicos de esquerda ou de ONGs.
A saga de 'Assassin's Creed' já foi criticada no passado, por exemplo, quando abordou a época da Revolução Francesa, no entanto, esta é a primeira vez que enfrenta críticas tão virais antes do lançamento de um episódio.
Um inquérito do Observatório Europeu de Videojogos, publicado em fevereiro, aumentou a polémica culpando as pessoas identificadas como conservadoras, que se opõem à "presença de personagens inclusivos".
Campanha de desestabilização
"O nosso uso de Yasuke foi instrumentalizado por uma determinada população para transmitir sua própria mensagem", lamenta Marc-Alexis Côté, produtor executivo da franquia 'Assassin's Creed'.
Tratar a história do Japão continua a ser um tema sensível, como mostram certas reações a fragmentos de 'Shadows', onde um jogador danifica o interior de um templo.
"Entendo o princípio do secularismo em França, mas é importante reconhecer que insultos sem consideração à religião podem provocar reações fortes", enfatiza Yuichi Gozai.
Mas, de acordo com Yuichi Gozai, "se essas representações reforçarem a discriminação e o preconceito em relação ao Japão, elas tornar-se-ão contraproducentes". Para ele, 'Assassin's Creed Shadows' cristaliza claramente "essas preocupações".
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