Entre governar a Grã-Bretanha e ajudar os Aliados a vencer a Segunda Guerra Mundial, Churchill foi um dos primeiros a teorizar sobre outras regiões do Universo nas quais podem (ou não) existir condições propícias para albergar a vida.
Trechos do seu ensaio "Estamos Sozinhos no Universo?" foram trazidos à luz na quarta-feira, na revista científica Nature.
"Não sou suficientemente presunçoso para pensar que o meu sol é o único com uma família de planetas", escreveu Churchill no documento a que o astrofísico Mario Livio teve acesso no ano passado, no Museu Nacional Churchill dos Estados Unidos, em Fulton, no estado do Missouri.
Para o antigo primeiro-ministro não seria improvável que existissem outros planetas com o "tamanho certo para manter (...) água e possivelmente uma atmosfera" e estarem "a uma distância apropriada do seu sol para manter uma temperatura adequada".
Anos mais tarde, este conceito passaria a ser denominado “zona de habitabilidade” ou Zona de Goldilocks, que não é mais do que a região espacial à volta de uma estrela onde o nível de radiação permite a existência de água no estado líquido. Isto é, a água não evapora perante o calor do sol, mas fica perto deste o suficiente para que não congele.
Mario Livio explicou que Churchill redigiu o primeiro rascunho do documento em 1939, quando a Europa estava à beira da guerra, e fez a ultima revisão no final dos anos 1950, quando visitou o seu editor no sul da França.
Correspondente de guerra e soldado transformado em político, Churchill também era conhecido pelo seu amor à ciência. Escreveu ensaios e artigos nos anos 1920 e 1930 sobre temas como evolução, biologia e energia de fusão. Porém, no tempo em que foi soldado, sabia que para alimentar a sua ambição de se tornar primeiro-ministro, precisava de estar inteirado e ter pelo menos o conhecimento básico de alguns assuntos. Como oficial subalterno na Índia, embrenhou-se no estudo de Charles Darwin e de HG Wells. Deste último, o The Guardian escreve que Churchill leu toda a sua obra duas vezes.
"O que é extraordinário é a sua linha de raciocínio. Ele pensa sobre o problema como um cientista", disse Livio à AFP.
Como primeiro-ministro, financiou laboratórios, telescópios e o desenvolvimento de tecnologias que geraram muitas descobertas.
"Numa época em que um grande número de políticos evitam a ciência, comove-me recordar um líder que tão profundamente se comoveu com ela", escreveu Livio na Nature.
O interesse de Churchill pelo mundo da ciência está bem documentado. A maioria dos seus manuscritos está disponível para consulta no Centro de Arquivos da Churchill College. Escreve o The Guardian que os ensaios sobre a vida extra-terrestre sempre estiveram lá. Apenas não estavam à vista.
Em 2015, um grupo de investigadores calcularam que a Via Láctea pode ser o lar de mil milhões de planetas que orbitam numa zona habitável das suas estrelas.
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