Nuno Júdice afirmou que o poema é atribuído a Camões e a autoria não lhe suscita dúvidas, apesar de uma possível edição implicar “o trabalho de especialistas”.
O manuscrito foi encontrado pelo investigador na Biblioteca Digital Hispânica, onde se encontram vários outros poetas “do barroco, que merecem ser melhor estudados”.
Nuno Júdice salientou que esta sua descoberta demonstra “que há ainda muito por revelar nas bibliotecas e por estudar e dar o devido valor”, na área da literatura.
“É uma esperança para os investigadores”, disse o também diretor da revista Colóquio Letras da Fundação Calouste Gulbenkian, referindo que “não está tudo estudado ou descoberto”, profetizando que há território literário por desvendar.
Referindo-se ao poema, Júdice disse que Manuel de Faria “foi o primeiro editor a sério de Camões”, no século XVII, e não seria este soneto que tornaria Camões um poeta maior e tão conhecido.
Esta poema, segundo Nuno Júdice, “desenvolve uma ideia nada ortodoxa”, com o catolicismo vigente na época, já que Camões argumenta que o amor liberta.
Segundo o investigador, neste soneto, Camões afirma que “Cristo é torturado e chicoteado, mas liberta-se pelo amor à humanidade”.
Camões recupera a ideia do “cárcere por amor”, que tinha sido já desenvolvida pelo poeta Diego San Pedro (1437-1498), autor de “Cárcel de Amor”.
O soneto foi escrito em língua portuguesa.
Refira-se que Camões escreveu também em castelhano e, neste período, dois países ibéricos estavam unidos sob a mesma coroa, o que facilitou a circulação de ideias.
A denominada “monarquia dual” vigorou de 1581 até 1640.
Luís de Camões, de vida incerta, terá nascido em Lisboa, em 1524, cidade onde morreu em 1579 ou 1580, tendo recebido uma reduzida tença do Rei Sebastião pela escrita do poema épico “Os Lusíadas”, publicado em 1572.
Camões é ainda autor de vários poemas, como redondilhas, rimas e sonetos, e de teatro, como “Auto d’El Rei Seleuco”, “Filodemo” e “Anfitriões”.
A sua poesia foi cantada por Amália e José Afonso, entre outros.
O poeta encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, apesar de suscitar algumas dúvidas aos académicos que seja o seu corpo que se encontra na urna de pedra.
Não é a primeira vez que Nuno Júdice 'se encontra' com Camões.
O investigador contou à Lusa, que, há uns anos, descobriu um poema atribuído ao épico, “Leite da Virgem”, que entregou aos cuidados da especialista camoniana Fiama Hasse Pais Brandão, que, entretanto morreu em 2007.
Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice, 73 anos, foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Júdice desempenhou o cargo de diretor da revista literária Tabacaria (1996-2009), foi comissário para a área da Literatura da representação portuguesa na 49.ª Feira do Livro de Frankfurt.
Desempenhou funções como conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em França (1997-2004) e diretor do Instituto Camões em Paris.
Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa'94 - Capital Europeia da Cultura.
Atualmente, dirige a Revista Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian.
Literariamente, estreou-se em 1972 com o livro de poesia "A Noção de Poema".
Ao longo da carreira literária, Nuno Júdice tem sido distinguido com diversos prémios, os quais o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, em 2013, o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus.
Recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, por "Meditação sobre Ruínas", finalista do Prémio Europeu de Literatura.
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