“Para uma realizadora que faz um primeiro filme e ganhar um grande prémio, o prémio especial do júri é um privilégio grande, como é obvio. Estes prémios todos juntos acaba por ser uma coisa absolutamente incrível. Ganha dois ‘leões’ oficiais e dois prémios paralelos”, afirmou o produtor à agência Lusa.
“Listen” venceu hoje o prémio ‘Leão de Futuro’, de primeira obra, e o prémio especial do júri ‘Horizontes’ no Festival de Cinema de Veneza, que terminou hoje em Itália. Na sexta-feira, tinha ganho o prémio Bisato d’Oro de melhor realização e o prémio “Sorriso Diverso Venezia”, pela “abordagem às questões sociais”, ambos galardões paralelos do festival.
É a primeira longa-metragem da atriz e realizadora Ana Rocha de Sousa, de 41 anos, e a narrativa inspira-se em factos reais. É um drama familiar de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais lhe retiram os três filhos menores, por suspeita de maus tratos.
O filme tem coprodução luso-britânica, foi rodado nos arredores de Londres com elenco português e inglês, encabeçado por Lúcia Moniz, Ruben Garcia e Sophia Myles. Chegará aos cinemas portugueses em 2021.
Rodrigo Areias recordou hoje à Lusa que decidiu produzir o filme por causa do argumento e “pela energia” da realizadora, e partiram depois à procura de financiamento e coprodução internacional no Reino Unido, onde Ana Rocha de Sousa estudou cinema.
“Por isso, na carreira de alguém que está a fazer uma primeira obra, [o reconhecimento de Veneza] marca claramente o percurso que ela irá fazer, sem dúvida nenhuma”, disse o produtor português.
Em entrevista à agência Lusa dias antes da estreia mundial do filme em Veneza, Ana Rocha de Sousa admitia as expectativas em relação ao festival.
“Estar em Veneza trouxe muito visibilidade ao filme. Existirá um ‘antes de Veneza’ e um ‘depois de Veneza’. Sou absolutamente grata ao facto de Veneza ter coragem de seguir e, de uma forma adaptada e nova, não deixar cair as coisas”, disse.
Ana Rocha de Sousa, 41 anos, entrou no cinema pela porta da representação, sobretudo em televisão, tendo participado em séries de ficção como “Riscos”, “A raia dos medos”, “Morangos com açúcar” e “Jura”.
Estudou na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e emigrou para o Reino Unido, onde estudou cinema, passando para o outro lado da câmara a realizar curtas-metragens. Atualmente prepara uma nova longa-metragem.
“Sempre soube que, vinda de um meio que o cinema acaba por considerar menos nobre, que é a televisão, e tendo tido essa experiência, existe essa tendência imediata e espontânea, sem sequer se procurar pensar nisso, de julgamento muito prévio e muito redutor. Mas as coisas são o que são. Não tenho um discurso derrotista. É lidar com as coisas como elas são. Nem o meu filme vai agradar a toda a gente e o importante é ter o foco e ter convicção até ao fim”, afirmou à agência Lusa.
No Festival de Cinema de Veneza não são muitos os realizadores portugueses que receberam prémios oficiais.
Entre eles contam-se João Pedro Rodrigues, que recebeu uma menção especial em 1997 com o filme “Parabéns”, e João César Monteiro, que venceu o Leão de Prata em 1989 com “Recordações da casa amarela” e o Grande Prémio do Júri em 1995 com “A Comédia de Deus”.
O mais premiado é Manoel de Oliveira, contando, por exemplo, com o Grande Prémio do Júri em 1991 com “A Divina Comédia” e o Leão de Ouro de Carreira em 2004.
Em 2016, Nuno Lopes venceu o prémio de melhor ator da secção “Horizontes” pela prestação em “São Jorge”, de Marco Martins.
No ano passado, “A Herdade”, de Tiago Guedes, venceu o Bisato d’Oro neste festival.
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