Com a popularização das redes sociais, ser uma pessoa com muitos seguidores nestas plataformas tornou-se uma ocupação de grande influência pela difusão que os seus conteúdos têm, havendo quem consiga chegar a milhões de pessoas.
Chamadas de “influencers”, estas pessoas têm a capacidade têm a capacidade de ditar tendências e direcionar as pessoas para determinados produtos ou serviços através da publicação de fotografias ou de partilhas de conteúdos. Contudo, para tal acontecer, é frequente que se peça algo em troca, desde dinheiro até ao próprio produto que se está a promover.
Para Joe Nicchi, esta era uma prática recorrente por parte de alguns dos seus clientes da sua carrinha de gelados, a CVT Soft Serve. Autoproclamados influencers dirigiam-se a ele periodicamente, tanto por mensagens como até presencialmente, para pedir gelados de graça em troca de divulgação nas suas redes sociais. Por uma fotografia, vídeo ou história na rede Instagram, um cone.
Nicchi, ator de profissão que criou este negócio em 2014 para poder ganhar algum dinheiro extra, sempre recusou estes pedidos, colocando alguns deles nas suas redes sociais com observações como “preferia ir passar férias à Coreia do Norte”. No entanto, a sua paciência para as solicitações insistentes acabaria por chegar ao fim.
De modelo Mister Softee, com aspeto clássico que se conhece das carrinhas de gelados, a empresa serve três sabores — chocolate, baunilha e uma mistura dos dois — em cone e este custa 4 dólares (aproximadamente 3,5 euros) por gelado. No entanto, agora a CVT Soft Serve decidiu passar a aplicar um preço especial, já que, para “influencers”, o valor cobrado duplicou.
À revista VICE, Nicchi disse que aquilo que foi a “gota de água” que o levou a implementar esta política foi quando foi convidado a servir gelado de graça para um evento de 300 pessoas em troca de exposição. Em resposta, o dono da CVT Soft Serve criou um painel onde se lê “Influencers pay double” (“Influencers pagam o dobro”) e colocou uma fotografia a agarrá-lo na sua conta de Instagram.
A acompanhar a imagem, Nicchi escreveu que a empresa “não quer saber se és um influencer ou quantos seguidores tens”, pois “nunca irá dar um gelado de graça em troca por um post na tua página de redes sociais.” A terminar o texto, Nicchi lembra que este é um item que custa apenas 4 dólares, “mas que agora custa 8 para ti”, colocando a hashtag #InfluencersAreGross (“Influencers são nojentos”).
A consequência desta política anti-influencers é que o seu próprio negócio acabou por tornar-se viral, quando um utilizador do Reddit viu a sua fotografia com a placa e colocou-a nesta plataforma. Deste então, Nicchi tem sido contactado por vários meios de comunicação para contar a sua história e, com um certo grau de ironia, as suas redes sociais têm obtido cada vez mais seguidores.
Em conversa com o The Guardian, Nicchi admitiu que os responsáveis da CVT Soft Serve agora são “os influencers anti-influencers” e que espera que a sua postura inspire “outros pequenos negócios a defenderem-se”. “Espero que mais pessoas não deixem que likes, comentários e seguidores tenham peso no seu negócio. Eu quero que as pessoas vão a um restaurante porque a comida e o serviço são fantásticos”, disse ao jornal britânico.
As reações contra os negócios de permuta dos "influencers" têm vindo a tornar-se um tema de discussão nos últimos tempos, havendo desde hotéis nas Filipinas até estabelecimentos na Irlanda a negar colaborações com personalidades das redes sociais. Em causa está não só o teor das parcerias, como também a possível natureza fraudulenta das mesmas, havendo cada vez mais pessoas a comprar "seguidores" falsos através de empresas tecnológicas para empolar os seus números de forma a ter uma conta apetecível.
A título de exemplo, de acordo com a VICE, a empresa de marketing das redes sociais Hypetap analisou as contas de Instagram de milhares de "influencers" australianos, estimando que mais de 13% deles terão comprado mais de 20% dos seus seguidores. É por isso que apesar de estar a colher os frutos da sua estratégia, Nicchi não se deixa iludir e lança um outro apelo com um toque de provocação: “Se o Instagram acabasse amanhã, a nossa carrinha iria sobreviver. Não sei se o teu negócio de ‘influencer’ conseguiria o mesmo”.
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