Em causa está uma secção da barreira física que a ex-República Democrática Alemã ergueu em Berlim em 1961, e com a qual dividiu a cidade durante 28 anos, impedindo que a comunidade sob domínio soviético, nas zonas a Leste, acedesse aos territórios a Ocidente - o que só se alterou com a queda do Muro, em 1989, quando se criaram as condições para a reunificação da Alemanha.
O referido fragmento estava originalmente localizado na praça Potsdamer, que é uma importante intersecção de trânsito no centro de Berlim, e, entretanto, foi adquirido pelos proprietários da Coleção Norlinda e José Lima, que está cedida em regime de depósito ao Município de São João da Madeira.
"Esta peça traz para o concelho uma dimensão muito importante da história ocidental", declara à Lusa o presidente da autarquia, Jorge Vultos Sequeira. "A união da Alemanha e a conquista da Liberdade são aspetos fundamentais da construção europeia e é muito relevante que a nossa cidade tenha um marco raro desse processo", realça.
Para José Lima, agora proprietário de parte da fortificação que tinha 3,5 metros de altura por mais de 60 quilómetros de extensão, a peça constitui "um símbolo de uma época histórica de grande significado para muitas pessoas em todo o mundo".
"A possibilidade de enquadrar a minha coleção de arte contemporânea na história do Muro sempre foi aliciante", admite o colecionador. "Que arte se fazia em Portugal, na Europa e no mundo quando o Muro foi construído? E quando ele caiu? É possível ver o efeito do Muro nas obras da coleção? A procura de respostas para estas perguntas poderá agora ser contextualizada com um exemplo real do Muro de Berlim", defende.
Para concretização desse objetivo, o processo de aquisição foi, contudo, demorado. "Há já alguns anos que procurava um destes segmentos, cada vez mais difíceis de encontrar com origem comprovada e com possibilidade legal de serem retirados da Alemanha, já que muitos dos existentes estão protegidos por leis de património", explica José Lima.
Com formato em L, apresentando-se com 1,2 metros de largura e preservando parte do graffiti colorido com que foi decorado na década de 1980, o fragmento, comprado para São João da Madeira, "fazia parte de um lote de segmentos retirados de Postdamer Platz logo a seguir aos primeiros dias da queda do Muro, numa fase muito inicial".
Na sua aquisição foi decisiva a ajuda de especialistas de Berlim que, "durante cerca de três anos, procuraram um exemplar que reunisse um conjunto de condições importantes: a verificação de origem, a legalidade dos procedimentos de retirada e posterior venda, boas condições técnicas e um custo razoável".
A escolha final recaiu sobre uma porção de Muro que se encontrava ao cuidado de um particular e, uma vez comprovados todos os requisitos, o mais difícil foi "a logística envolvida em trazer para Portugal um bloco de betão-armado com quase três toneladas".
O fragmento do Muro de Berlim agora exposto numa das áreas exteriores da Oliva Creative Factory - e passível de visita gratuita - será posteriormente instalado num local público da cidade que lhe assegure "boas condições de preservação e fácil acessibilidade pelo público", de acordo com um plano urbanístico que a autarquia já está a desenvolver.
"Despertando ainda muitas paixões, é um objeto difícil de definir, mas carregado de história", diz José Lima. "Creio que será uma mais-valia para o enquadramento da minha coleção no período histórico que rodeou a existência do Muro, desde a sua criação até à sua queda e às ondas de choque que se seguiram - e que ainda hoje se fazem sentir", conclui.
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