Em comunicado divulgado pela fundação sediada naquele mosteiro de Matosinhos em simultâneo com a assinatura do memorando de entendimento com a Museus e Monumentos de Portugal, em Lisboa, a Lello realçou que “a aquisição formalizada no dia 10 de março, no âmbito da TEFAF de Maastricht, pela família Pedro Pinto, reflete a missão contínua da Fundação Livraria Lello em promover o conhecimento por via da arte e da cultura, inspirando uma sociedade mais inclusiva”.

No comunicado divulgado pela fundação não é ainda indicado qual o museu nacional onde o quadro vai estar patente, como foi anunciado pelo Ministério da Cultura no dia 12 deste mês.

“A ‘Descida da Cruz’ é mais do que uma obra-prima; é um símbolo da nossa herança e identidade. Trazer esta obra de volta para Portugal e disponibilizá-la ao público é um privilégio e uma responsabilidade que assumimos com grande honra”, disse, citada no mesmo comunicado, a presidente da fundação, Rita Marques.

A saída da obra de Portugal esteve envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-Geral do Património Cultural decidiu autorizar a saída do país, contrariando pareceres de especialistas.

Os proprietários portugueses entregaram o quadro para venda no final de 2023, depois de ter recebido uma autorização de saída de Portugal, justificada pela “inexistência de qualquer ónus jurídico”.

A secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal) manifestou em fevereiro, junto do Governo, indignação com a condução do processo que levou à saída do país do quadro de Domingos Sequeira e exigiu respostas oficiais. Anteriormente, um grupo de 12 especialistas da área do património também dirigiu uma carta aberta à tutela manifestando repúdio pela condução do processo.

Nessa altura, em resposta à missiva de 12 especialistas, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, assegurou estarem em curso “todos os esforços” para conhecer as “eventuais condições de compra” da obra.

Por seu turno, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, mostrou-se, na mesma altura, contra a aquisição pública da pintura, avaliada em 1,2 milhões de euros, num contexto em que o Estado se encontra “refém de interesses especulativos”.

No dia 12, o Governo anunciou a compra do quadro por um privado português, com vista a expô-lo num museu nacional.

“Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira – com “Ascensão”, “Juízo Final” e “Adoração dos Magos”, esta última já na posse do MNAA por adquisição através de uma campanha pública – feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837. Pelo menos um grande estudo preparatório da obra, na posse do MNAA, está classificado como bem de interesse nacional.