“Como o setor reagiu tão rapidamente, com críticas, dúvidas e questões, nós vamos suspender [o TV Fest], ia estrear hoje, será suspenso hoje. Vamos repensar e perceber exatamente como manter este nosso objetivo de apoiar o setor da música e os técnicos e, ao mesmo tempo, dar a possibilidade de as pessoas receberem em sua casa música portuguesa”, afirmou hoje a ministra da Cultura, Graça Fonseca, em declarações à Lusa.
De acordo com a ministra, com este projeto seriam abrangidos "160 músicos", "de todos os estilos musicais", a quem era pedido que "envolvessem sempre equipas técnicas", o que significaria o envolvimento de "cerca de 700 técnicos", ao longo dos vários programas.
Graça Fonseca explicou que estavam já gravados três programas e que "suspender o projeto para repensar não significa não retribuir aos 12 músicos que já gravaram". “Este nosso repensar é envolvendo evidentemente aqueles que já o fizeram”, afirmou.
Agora, não há previsões de quando o programa começará a ser exibido.
“Nós fomos rápidos com vários parceiros a montar um projeto. Por vezes somos acusados se sermos lentos e burocráticos, neste caso essa parte ninguém pode dizer que fomos. O setor também foi rápido a reagir, e nós agora, para não sermos rápidos, vamos suspender, vamos repensar e depois para a semana, veremos”, referiu Graça Fonseca.
O projeto, sublinhou, “não é uma parceria com a RTP nem para financiar a RTP”. A verba em causa “é destinada a pagar músicos e técnicos”.
“Esta verba foi planeada para pagar o trabalho dos artistas que o têm feito de forma não remunerada”, afirmou, referindo-se aos concertos que vários músicos têm dado nas últimas semanas em direto através das suas páginas nas redes sociais.
O TV Fest surgiu da constatação que “os músicos e os técnicos são os mais fora dos diferentes apoios disponíveis na fase de emergência, tanto de entidades públicas como privadas”. Graça Fonseca salientou que o TV Fest é um projeto que tem “apenas objetivos públicos”.
“Foi assumido como um projeto de política pública, que reconhece a importância da música em geral, muito em particular neste momento, que, neste momento também, da parte do Governo, há uma preocupação e uma vontade de ir ter com as pessoas que estão em casa e terem algo que continue a mantê-las ligadas à música”, disse.
O TV Fest chegaria “a casa de pelo menos 90% das famílias portuguesas”, através de um canal “que as quatro operadoras iam abrir para todos”. “O quanto seria mais difícil passarmos por isto, estarmos em casa sem termos música, sem ler um livro, sem a televisão nos dar uma peça de teatro?”, questionou.
A ministra reiterou que o Governo pensou “numa iniciativa inédita para um tempo inédito”, mas “como não foi assim compreendido e perante as reações”, o TV Fest será “suspenso e reavaliado”. “Agora já não com tanta rapidez como quando montámos o projeto”, disse.
O festival, criado no quadro de apoio ao setor da música, no âmbito da crise da pandemia Covid-19, com um investimento financeiro público de um milhão de euros, previa a realização de concertos disponibilizados, todas as noites, no canal 444 e na RTP Play, ao longo de um mês.
No primeiro dia de festival, esta quinta-feira, estavam previstas as atuações de Fernando Tordo, Marisa Liz, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro.
O festival era apadrinhado por Júlio Isidro que, ao SAPO24, disse ter sido convidado pelo Ministério da Cultura e explico os moldes do evento.
Foi o apresentador que escolheu os primeiros quatro artistas, que depois iriam indicar quais os nomes que lhes sucediam. "É um processo muito democrático, mas já se sabe que nunca há unanimidade", disse o 'senhor televisão". Júlio Isidro chegou mesmo a avançar alguns nomes para os próximos dias do TV Fest. Héber Marques, Magano, Tiago Bettencourt, Lena D'Água, Rita Red Shoes, Tomás Wallenstein, Ricardo Toscano ou Bruno Santos seriam os próximos a atuar.
A iniciativa não agradou, porém, a toda a classe artística. Na quarta-feira foi lançada uma petição pública 'online' pelo cancelamento imediato do TV Fest, que hoje, às 16:00, contava com mais de 18 mil assinaturas.
"Pedimos o cancelamento imediato do TV Fest, e o cancelamento de qualquer medida que fomente disparidades, competição e desigualdade no acesso. A classe artística necessita de um reforço claro e objetivo à linha de apoio a artistas e entidades, de um mecanismo que reforce a sua proteção social perante o estado e legisle a sua contribuição à sociedade através do reconhecimento do seu estatuto de intermitência".
Segundo o manifesto, as premissas do festival "anulam o trabalho invisível de mediação, pensamento e criação de experiência entre públicos e artistas, retirando-lhes a possibilidade de efetuar o seu trabalho e elegendo beneficiários ativos".
A petição exige ainda "imparcialidade, justiça e transparência absoluta sobre todos os critérios de atribuição e distribuição de oportunidades e fundos públicos".
[Notícia atualizada às 19h04]
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