“A seguir a um desfile [em março, de apresentação da coleção para este inverno] em que fiz algum estardalhaço e me fartei de dizer coisas quis fazer uma outra espécie de manifesto”, explicou Dino Alves, em declarações à Lusa a propósito da apresentação da coleção “Silêncio”. Para o designer de moda, “o silêncio é uma ótima arma” e, “às vezes, fala mais do que muitas palavras”.
O desfile, que decorreu dentro do Pavilhão Carlos Lopes, começou com vestidos negros, simples, com “alguns detalhes de ruído”, porque “no silêncio há sempre o chilrear de um pássaro, uma sirene, uma coisa qualquer”.
O silêncio foi apenas o “ponto de partida”, a partir do qual Dino Alves desenvolveu a coleção.
“O tema, o conceito, é uma fonte de inspiração que depois nos leva para coisas às vezes até antagónicas”, disse. E isso explica, por exemplo, as riscas, “que podem simbolizar as barras do som dos equipamentos, das mesas de som, que andam sempre para cima e para baixo”.
As riscas são em amarelo, mas também em renda, da mesma cor da peça que adornam. O vermelho de alguns tecidos “representa um grito ou um berro” e as cores mais suaves “formas mais dóceis de falar”. Alguns detalhes nas peças em cores mais ácidas “representam ruídos”.
As manequins que encerraram o desfile, com cubos pretos a taparem-lhes a cara, são “a imagem do silêncio”, já que “uma pessoa que não tem boca e não tem olhos não pode mesmo dizer nada”.
O desfile de Dino Alves foi o último de um dia que começou ao início da tarde no jardim, com as coleções de Imauve + Carolina Machado, de David Ferreira e do coletivo Awaytomars.
Já dentro de portas, foi apresentada a coleção “O Globalista”, de Nuno Gama, na qual o designer de moda glorifica, como é habitual no seu trabalho, símbolos portugueses. Para a primavera do próximo ano, Nuno Gama focou-se na azulejaria tradicional portuguesa.
Nas cores, optou pelo branco e os azuis, que remetem para os painéis de azulejos tradicionais portugueses, usados pelo criador como estampado ou bordados em camisas, t-shirts, ‘blazers’, calções e sapatos.
Os manequins surgiram com partes do corpo, como a cara, pernas e mãos cobertos de argila, tal como os bailarinos que estiveram na ‘passerelle’ no início, a meio e no final do desfile.
Outro símbolo português, o fado, encerrou o desfile com um músico Mike11 a tocar guitarra portuguesa enquanto os modelos se posicionavam para a foto de família.
Hoje realizaram-se ainda os desfiles de Aleksandar Protic – cuja coleção teve como ponto de partida as esculturas da série “Pelagos” de Barbara Hepworth -, da marca brasileira de biquínis Cia.Marítima, de Ricardo Andrez e do francês Christophe Sauvat.
A 49.ª edição da ModaLisboa, que decorre sob o tema “Luz”, termina no domingo.
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