Quem ouviu "House Of Balloons", primeira mixtape de Abel Tesfaye – o nome de nascimento do homem que assina como The Weeknd –, no ido ano de 2011, apaixonou-se de imediato pelo r&b narcótico e sonhador ali apresentado pelo canadiano, que na altura primava por um quase anonimato. Seis anos depois, nada do que ali se escutou permanece intacto na vida do músico que quis, e quer, ser como Michael Jackson; a introspeção deu lugar à euforia pop, gerando discos como "Starboy" – altamente auto-referencial – e temas de sucesso como “Can't Feel My Face”, a canção que o transportou, grosso modo, para a ribalta.
Após uma primeira tentativa de contacto com o público português durante o primeiro NOS Primavera Sound, em 2012, eis que The Weeknd chega a 2017 na plena posse das suas capacidades enquanto entertainer. Para trás ficaram os samples de ícones do “alternativo” como Siouxsie & The Banshees, a droga que permeava temas como “What You Need” e “Wicked Games” (que foi aqui relembrada de forma salutar), a vergonha que parecia persegui-lo por onde quer que passasse. Tesfaye agora é estrela pop, caída do céu diretamente do NOS Alive, que o acolheu de braços abertos e corações ainda mais.
É com “Starboy”, precisamente, que somos transportados para um mundo não-estranho, mas assustadoramente normal – o mundo onde a música parece relegada para segundo plano em prol daquilo que é a sua vida, os seus enlaces, a sua postura. Não é o lo-fi mas a grandiosidade maximal dos espetáculos pop que ditam as regras do jogo. Mesmo que, à segunda mudança (leia-se: tema), Tesfaye pareça arriscar uma incursão pela épica “Happy House”, da supramencionada Siouxsie, nada do que aqui se escuta tem o mesmo valor de autenticidade emocional que parecia ter o seu primeiro lançamento. Num concerto praticamente sem pausas, The Weeknd foi provando que já poucos lhe poderão tirar o estatuto que ganhou ao longo dos anos, por entre os «hello, Portugal!» da praxe. Pena é o amargo de boca deixado pela falta de familiaridade.
Uma familiaridade que existe, por exemplo, nos You Can't Win, Charlie Brown, a quem coube a honra de abrir o palco NOS. Ainda não havia uma verdadeira multidão para os ver, mas os lisboetas fizeram dançar q.b. ao som de um indie rock melódico, que procurou irromper pelo comércio em redor para entregar música que muitos apelidarão de verdadeira. A mesma verdade presente na sua postura; quando dizem que poderiam «ouvir isto para sempre», referindo-se aos gritos que eclodem aquando da menção em palco do seu nome, acreditamos que tal é verdade – porque soa à verdade.
A mesma verdade de que são feitos os Alt-J, que naquele mesmo palco apresentaram "Relaxer", o seu último álbum de estúdio, editado este ano. Banda de verdadeiro culto por cá, os Alt-J regressaram ao NOS Alive para mostrar uma pop quebrada e experimental – ou uma música experimental virada para a pop – que fez deles um caso de relativo sucesso, ocupando uma área cinzenta entre o underground e o mainstream. É nos temas do seu primeiro álbum, "An Awesome Wave", que mais se escuta o uivar do público: “Tesselate”, “Mathilda” e “Breezeblocks”.
À medida que os Phoenix iam apresentando o seu dance-rock sem rodeios (eles que são dos melhores amigos dos igualmente franceses Daft Punk), onde despontam temas mais introspectivos como “Lisztomania” e outros mais efusivos como “Trying To Be Cool”, Ryan Adams preparava-se para subir ao palco Heineken com "Prisoner", o seu novo disco, ele que se andou a passear pelo recinto muito antes do espetáculo. «This place fucking rules!», exclamou, e não há de ser necessária a tradução...
Assim como não o é para os The xx, que subiram ao palco principal quase que em modo best of – houve o disco novo, "I See You", mas também houve “VCR”, “Crystalised”, “Infinity” e “Shelter” (esta última em modo muito mais dançável) para matar as saudades do seu álbum de estreia, um clássico instantâneo para todos os melómanos do novo milénio. Num concerto emotivo, o trio britânico, tal como os Alt-J, navegou por águas em que o sucesso se mede não pela quantidade de álbuns vendidos mas pelo número de pessoas que absorveram cada qual dos seus minutos em palco.
Os momentos mais expansivos de "I See You", disco no qual os The xx parecem ter assimilado fortemente uma das suas maiores influências – a pop electrónica dos anos 90 –, foram provocando focos de dança por entre o público, casos de “Say Something Loving” ou a épica “Violent Noise”, mas é com “Angels”, a fechar, que a relação entre os britânicos e o público português mostra sinais de durabilidade. E serviu, até, para que Romy Madley Croft, a voz feminina dos The xx, a dedicasse à sua recém-noiva. A história de amor não irá ter fim.
O NOS Alive prossegue esta sexta-feira com concertos de Cave Story, Pega Monstro, The Cult, The Kills, Foo Fighters, entre muitos outros.
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