João Maia é um exemplo de superação perante as dificuldades. "Não preciso ver para fotografar, tenho os olhos do coração", diz João. Apesar de ser cedo há 13 anos, João não desistiu da fotografia e hoje dá cartas nesta área.
João tem 41 anos e perdeu a visão aos 28, depois de ter tido uma doença inflamatória nos olhos. Num ano, a situação agravou-se, até chegar ao quadro atual em que consegue apenas perceber vultos, sombras e algumas cores.
Foi na adversidade que o então carteiro em São Paulo, aprendeu a usar a bengala longa (ou bastão de Hoover), teve algumas aulas de braile e abraçou o sonho de fotografar.
"A Fotografia é sensibilidade. Acho que é maravilhoso poder mostrar como percebo o mundo, como eu o 'vejo', como eu o sinto, como eu o percebo", afirmou.
Com a câmara numa das mãos e a bengala na outra, João sobe à tribuna de fotógrafos e posiciona-se para tirar a melhor fotografia. Primeiro começou por tentar fotografar as corridas de velocidade, mas como a partida ficava muito longe não foi bem sucedido.
"Quando estou perto, sinto até o pulsar do coração dos corredores, os passos, e estou pronto para o disparo. Entre o ruído do público e a distância, é difícil para mim", explicou.
Pouco satisfeito com as fotos dos 100 m rasos, João opta pelo salto em comprimento. A área de queda está a poucos metros.
"Aqui sim, está bem. Estão ajeitando a areia, não é? Escuto perfeitamente. O zoom está bom? Me avise quando o atleta sair para eu estar preparado", pedia, falando sem parar.
Firmemente apoiado sobre uma muleta, começou a capturar imagens incríveis. Numa delas, Le Fur aparece abraçada com uma bandeira francesa, mostrando apenas a sua prótese. Noutra foto, a holandesa Marlene van Gansewinkel está sentada, à conversa com a britânica Stef Reid, enquanto aguarda o fim da prova.
Este é o primeiro evento que João cobre, desde que começou a levar a fotografia a sério, em 2008. Antes dos Jogos Rio2016, havia feito eventos-teste e competições locais, todas com baixíssimo público. Essa situação é perfeita para ele, que se apoia, principalmente, na sua audição.
João começou a trabalhar com uma câmara tradicional automática, mas agora usa um smartphone de última geração, que lhe diz se a foto tem boa luminosidade e se está no foco adequado.
Vai a campo acompanhado de Ricardo Rojas e de Leonardo Eroico. Ambos promovem o trabalho de João, com o projeto "Superação 2016", o qual procura retratar os Jogos Paralímpicos do Rio.
Rojas é o fundador do Mobgrafia, um movimento cultural que define a arte visual captada com um celular. Ricardo Rojas e Leonardo são os "olhos" que faltam a João.
"Sem eles, não poderia fazer nada. São eles que me ajudam com a edição, que eu não poderia fazer e que publicam as fotos nas redes sociais", descreveu João, que tem quase 1.800 seguidores em sua conta no Instagram.
"Não é apenas a ação que tens de capturar. Essas fotos mostram intimidade", disse. João acredita ser o único fotógrafo cego dedicado ao desporto. Conhece bem o mundo do atletismo, pois já tentou seguir carreira paralímpica no lançamento de peso, dardo e do disco.
"Não entrei na equipa. O nível é muito alto. Mas o desporto é tudo para mim e, agora, eu o sigo tudo com a câmera", disse João, que vive de sua pensão por invalidez dos Correios.
Próximo passo? "Aprender inglês", contou.
"Vamos para Tóquio... Ou, pelo menos, sonho com isso", confidenciou. Já está quase, João, tens até 2020 para te preparares!
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