A peça, que será vista pelo público, pela primeira vez, a 07 de novembro, chama-se “Quem é esta gente nos Painéis de São Vicente?”, e baseia-se num livro homónimo que Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada e a ilustradora Ana Seixas publicaram em 2017, imaginando como é que Nuno Gonçalves preparou e pintou uma das mais icónicas pinturas da arte portuguesa.
Recomendando para crianças a partir dos seis anos, o espetáculo combina representação ao vivo com projeção de imagens em ‘videomapping’, num cenário cujo formato replica os seis painéis de madeira da obra de arte.
Em palco estará apenas o ator Tobias Monteiro, no papel de Nuno Gonçalves, que contracena com mais de uma dezena de outros atores e figurantes em imagens pré-gravadas, numa representação entre o real e o virtual e em interação com o público.
“A pandemia tirou-me muito trabalho, mas também me deu outras oportunidades. Era impossível pôr 15 atores em palco, mas podia pôr um, gravando os outros todos”, explicou o encenador e autor da adaptação teatral, Vasco Letria, aos jornalistas, no final de um ensaio de imprensa.
Vasco Letria, que tem trabalhado sobretudo em espetáculos para os mais novos, admitiu que sempre quis fazer um projeto que articulasse teatro, artes plásticas e audiovisual, porque “as artes estão todas ligadas”.
Na peça, imagina-se como é que Nuno Gonçalves preparou e idealizou há mais de 500 anos a criação de um retrato coletivo, dividido em seis painéis de madeira, e no qual estão representadas quase 60 pessoas, cuja identidade é ainda hoje um mistério e tema de investigações.
“Esta obra é absolutamente central na nossa história de arte. A nossa intenção é que os miúdos, cedo na vida, a conheçam. Porque quando conhecemos uma coisa na infância geralmente temos uma relação com ela que é completamente diferente de uma descoberta feita posteriormente”, afirmou a escritora Isabel Alçada, que também assistiu ao ensaio juntamente com Ana Maria Magalhães.
No livro publicado em 2017, as duas escritoras imaginam o bulício na oficina de Nuno Gonçalves, entre pipas, potes e sacas cheias de materiais, com a presença dos figurantes que participaram, durante longas horas, na composição daquela pintura gigante.
Tal como no livro, também a peça convida os espectadores a estarem atentos à composição dos painéis e a tentarem identificar detalhes que vão sendo narrados, expressões das figuras retratadas ou informações sobre a época da vida portuguesa de há 500 anos.
“Não lhes contamos tudo, deixamos sempre um caminho aberto para a imaginação deles”, afirmou Vasco Letria.
Ana Maria Magalhães considera que tanto a peça de teatro como o livro são uma primeira apresentação da obra da arte portuguesa aos mais novos, são um primeiro passo para se “estabelecer laços de afeto com os painéis”.
“Fui muitos anos professora do 5.º e 6.º anos e, nos livros de História, geralmente aparecem estes painéis e não é fácil, com crianças de nove e dez anos, ajudá-los a perceber quanto a obra é bela. É demasiado longe daquilo que conseguem apreciar”, disse.
A peça de teatro estará em cena pelo menos um mês no auditório do Museu Nacional de Arte Antiga, mas está preparada para ser apresentada em escolas, bibliotecas e outros recintos do país.
Os Painéis de São Vicente, tesouro nacional da pintura portuguesa, considerado o “maior retrato coletivo da pintura ocidental”, estão atualmente a ser restaurados pelo Museu Nacional de Arte Antiga.
Os painéis foram descobertos em finais do século XIX, no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, em Lisboa, e, na altura, por não terem assinatura e datação visíveis e inequívocas, suscitaram um enorme mistério e fascínio por parte de várias gerações de estudiosos e académicos.
A autoria dos painéis foi descoberta por José de Figueiredo e atribuída a Nuno Gonçalves, através da interpretação de um monograma revelado durante o primeiro restauro da pintura, na década de 1930.
Comentários