A arte como transfiguração da realidade é o tema central da edição n.º 48 da revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que será lançada na quarta-feira, pelas 18:00, no Museu Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, num encontro de entrada livre e aberto ao público.
Um ano após o desaparecimento da pintora, uma das mais destacadas criadoras portuguesas a nível internacional, a direção da revista decidiu prestar-lhe homenagem e realizar um “encontro de reconhecimento e gratidão pela arte e pela vida multifacetada de Paula Rego”, explica, num texto sobre a nova edição.
A diretora de “Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher”, a investigadora Isabel Henriques de Jesus, justifica a escolha pela luta da artista quanto aos direitos das mulheres.
“Paula Rego denuncia a submissão das mulheres, mas também reclama o seu direito ao corpo, à autonomia, à vida e à sexualidade, razão pela qual tantas mulheres lhe estão reconhecidas”, sublinha a responsável. Nesse contexto, a direção da revista “As Faces de Eva” “associa-se a esse sentimento de gratidão, e perpetua a sua memória através da presente edição”.
Publicação científica semestral, a revista “As Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher” foi lançada em 1999, pelo Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CICS-NOVA).
A sessão de apresentação do novo número acolherá uma conversa em torno da vida e obra da pintora, com a coordenadora da programação e conservação do Museu Casa das Histórias Paula Rego, Catarina Alfaro, e a escritora Anabela Mota Ribeiro, autora do livro “Paula Rego por Paula Rego”, publicado em 2016.
No texto de apresentação deste número de “As Faces de Eva”, Catarina Alfaro sublinha, por seu lado, que o pensamento artístico de Paula Rego se constrói a partir da reflexão sobre as experiências vividas, sendo “precisamente este gesto de entrega, este vínculo essencial entre a arte e a vida, que melhor traduz, desde sempre, o significado da sua obra”.
Por sua vez, Anabela Mota Ribeiro invoca a multiplicidade, a “confluência de opostos e de pulsões contraditórias” para pensar Paula Rego, destacando uma frase de Caroline Willing, a filha mais velha da pintora: “Com ela nunca é acariciar ou bater, é sempre acariciar e bater”.
A iniciativa da revista “Faces de Eva. Estudos da Mulher” – publicação científica semestral de uma equipa de investigação pluridisciplinar com o mesmo nome do CICS.NOVA – conta com o apoio da Fundação D. Luís I e do Museu Casa das Histórias Paula Rego.
Nascida em Lisboa, a 26 de janeiro de 1935, numa família de tradição republicana e liberal, Paula Rego começou a desenhar ainda criança, um talento que lhe foi reconhecido pelos professores da St. Julian’s School, em Carcavelos. Partiu para a capital britânica com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art.
Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, para fazer pesquisa sobre contos infantis, em 1975, e, em Londres, conheceu o futuro marido, o artista inglês Victor Willing, cuja obra Paula Rego exibiu por várias vezes na Casa das Histórias.
Em 2010, foi ordenada Dama Oficial da Ordem do Império Britânico pela Rainha Isabel e recebeu, em Lisboa, o Prémio Personalidade Portuguesa do Ano atribuído pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal.
Paula Rego recebeu, em 1995, as insígnias de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2004, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e, em 2011, o doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade de Lisboa, título que possui de várias universidades no Reino Unido, como as de Oxford e Roehampton.
Em 2019, foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura.
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