Aos 20 anos, Peter Eckert ocupava os seus dias com a carpintaria, estava noivo de Amy e aproveitava o tempo livre para acelerar numa Moto Guzzi. Era esta a vida que Peter levava quando soube que ia ficar cego, devido a uma retinite pigmentosa. Sentiu, desde aí, que devia mergulhar no mundo da arte, onde ia mostrar a todos aquilo que é “a realidade de um cego”.
Peter começou por fazer estruturas de madeira, baseando-se no parecer que Amy dava acerca do resultado. “Todos os dias, quando Amy voltava do trabalho, mostrava-lhe a arte do dia”, conta Peter no seu site pessoal. Contudo, este processo, confessa, “estava a deixar a Amy louca”. Era necessário uma alternativa.
Num dia de limpezas, quando estava a arrumar uma gaveta, encontrou uma Kodak dos anos 50 que pertencia à sua mãe. Peter pediu a Amy que lhe descrevesse as configurações a fim de conseguir, de forma autónoma, usar a máquina. Ao perceber que a Kodak tinha uma configuração de infravermelhos, Peter pensou: “deve ser divertido um homem fazer fotos num comprimento de onda não visível”. Nasceu assim a vontade de tentar a fotografia. Contudo, isso não bastava: Peter não conhecia a dinâmica das máquinas manuais.
O passo seguinte foi "atacar" os empregados das lojas de máquinas fotográficas com “mais de um milhão de perguntas”. Começa então, através de livros, a perceber, a par e passo, como se usava uma máquina fotográfica com visão infravermelha e a tirar fotografias com efeitos de luz ou truques como dupla exposição ou exposição longa.
O fotógrafo comprou um computador e um scanner capaz de receber instruções através da fala. “Ensinei-me a mim mesmo a usar um software adaptativo. Assim podia ler os livros acerca das câmaras fotográficas”, relata.
As primeiras fotografias eram produto das viagens noturnas que fazia com o seu pastor alemão, Uzu. Fotografava estátuas, como forma experimental, mas sabia bem qual era o objetivo a seguir: “eu queria encontrar uma maneira de mostrar graficamente como é a cegueira”.
O fotógrafo considera que o seu trabalho é uma extensão do movimentos impressionistas (“muitos impressionistas tiveram problemas de visão. Eles mostravam-nos uma forma diferente de interpretar as coisas”, diz). As suas fotografias são, assim, compostas por figuras fantasmagóricas e linhas artisticamente borradas. Eckert usa o toque e o som para visualizar aquilo que quer fotografar e depois constrói as imagens na sua mente, que, assegura, é capaz de armazenar até 100 imagens.
“Eu ouço vivamente as coisas, e depois toco nelas para que me poder relacionar com o som e com o objeto”, diz Peter. "É como um bebé que aprende a ver. Quando eles nascem, os bebés não conseguem ver bem. Quando aprendem a ver, precisam de associar palavras a objetos e estes tornam-se reais”. Eckert diz que consegue ver uma luz, algo que ele compara com a sensação de “membro fantasma”. O fotógrafo acredita que este fenómeno é o resultado da sua tentativa insaciável de perceber o mundo que o rodeia.
Hugh Hefgner, fundador da revista Playboy, permitiu, em 1970, o acesso da comunidade cega à revista. Peter Eckert é um dos fotógrafos que realiza trabalhos para a revista, a partir de 2010. Além disso, foi recentemente contratado para fotografar uma campanha publicitária para a Volkswagen. Há 30 anos cego, Peter tem ainda várias obras expostas em vários cantos do mundo.
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