Rita Marques, presidente da Fundação Livraria Lello, entidade que adquiriu a pintura a 10 de março, disse aos jornalistas, no final da cerimónia de assinatura de um memorando com o Estado português, no Palácio da Ajuda, que o museu nacional para onde a obra irá será anunciado no Dia Internacional dos Museus.
“Vamos expor a pintura no Mosteiro de Leça do Balio [no município de Matosinhos, distrito do Porto], no dia 18 de maio, e depois será transferida para um museu nacional”, afirmou a responsável na cerimónia, que contou com a presença do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, do presidente da Museus e Monumentos de Portugal (MMP), Pedro Sobrado, e de várias personalidades da museologia.
Questionado pelos jornalistas no final da apresentação, o presidente da MMP indicou que este memorando “é um preâmbulo para a criação de protocolo” entre o Estado e a Fundação Livraria Lello que irá determinar em que museus nacionais será exposto.
“O memorando significa que a obra regressa a Portugal num novo contexto, com o compromisso de que será exposta num ou vários museus nacionais, em articulação entre a Fundação Livraria Lello e a MMP”, disse Pedro Sobrado.
No âmbito do acordo, haverá um compromisso com o novo proprietário, de a obra ser exposta “num museu nacional ou até em mais do que um, não estando excluída a sua exposição em instituições estrangeiras”.
“Fomos até onde podíamos ir”, garantiu Pedro Sobrado, referindo-se ao facto de o Estado ter tentado comprar a pintura, por um valor de 850 mil euros, e agradeceu o investimento da Fundação Livraria Lello nesta aquisição, “em condições que garantem a sua proteção, estudo, valorização e fruição pública”.
Por seu turno, Rita Marques – que se escusou a indicar o valor da compra da obra – indicou que a entidade já está a “trabalhar com entidades públicas internacionais para a sua exposição no estrangeiro” e em “locais inusitados”, promovendo o “encontro da arte com outros mundos”.
O quadro do pintor português Domingos Sequeira (1768-1837) foi comprado a 10 de março, anunciou dois dias depois a MMP, referindo que o Estado tinha feito uma proposta de 850 mil euros para a aquisição à Galeria Colnaghi, que chegou a exibi-la este mês na feira internacional de arte TEFAF, em Maastricht, nos Países Baixos.
Apesar da recusa, a MMP, empresa que o ministro da Cultura encarregou de negociar a compra da pintura, manteve os contactos com o proprietário, Alexandre de Sousa Holstein, e com entidades privadas, acabando por ser adquirida pela Fundação Livraria Lello.
A saída de Portugal do quadro “Descida da Cruz”, que chegou a ser avaliado em 1,2 milhões de euros antes de sair do país, ficou envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-Geral do Património Cultural decidiu autorizar a saída do país, contrariando pareceres de especialistas.
“Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira – com “Ascensão”, “Juízo Final” e “Adoração dos Magos”, esta última já na posse do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) por aquisição através de uma campanha pública – feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837.
Pelo menos um grande estudo preparatório da obra, na posse do MNAA, está classificado como bem de interesse nacional.
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