No sábado, terminou o terceiro ciclo do projeto, que tem uma duração média de 18 meses e que já trabalhou com jovens de bairros sociais, de famílias imigrantes e, nesta última edição, abordou o abandono e o risco de abandono - escolar ou familiar.
"Cremos que a prática artística, se tem uma função, é criar cidadãos mais conscientes, no caso, adolescentes capazes de definirem o que querem para o futuro", disse à agência Lusa Margarida Sousa, da direção da companhia.
Durante os últimos 18 meses, o Teatrão juntou vários jovens, dos 15 aos 21 anos, de Coimbra, Soure e Condeixa-a-Nova, levando-os a entrar em contacto com o teatro, a dança e a música.
"Foi o projeto mais desafiante, porque a questão do absentismo também se colocou no nosso trabalho", notou, referindo que dos mais de 30 que participaram inicialmente, restaram 12 na apresentação final.
Para o palco, levaram o exercício "Partidas e Chegadas", um espetáculo que é também ele uma metáfora, uma história de uma viagem de comboio para "o Mundo B".
Mas o comboio nunca chega e as personagens "vão ficando à espera, os conflitos vão-se intensificando, as relações vão-se fortificando", explana Margarida Sousa.
As personagens surgem de um trabalho de observação de pessoas na estação de Coimbra-B e na rodoviária, e os jovens foram também instados a partir "deles próprios" para a construção da história.
"Para onde vão e o que querem fazer da vida deles?". A pergunta está presente tanto na peça como no projeto.
Para Margarida Sousa, as mudanças ou o impacto do projeto não são algo que se veja de forma direta ou que seja palpável, mas diz acreditar que o Bando à Parte trabalha, mais do que técnicas teatrais ou de dança, uma questão de "posicionamento".
"Como é que te colocas perante os outros, perante o mundo, perante ti próprio", aclara, sublinhando que o teatro tem essa capacidade de obrigar as pessoas a exporem-se.
Magda Mendes, de 18 anos, diz que se não fosse o projeto não estaria sequer a falar com um jornalista.
"Sou muito tímida", conta, referindo que "este tipo de teatro" (muito diferente daquele a que estava habituada) obrigou-a a sair da sua zona de conforto.
"Acho que, de certa forma, ajudou-me, mas ainda não descobri em quê. Talvez mais tarde, quando rever o passado, talvez aí eu descubra o porquê e acho que só aí vou perceber o porquê de estar aqui e de ter aceitado ter entrado neste desafio", sublinha a jovem de Condeixa-a-Nova.
Alina Yurchenko, de 20 anos, participou na segunda edição do Bando à Parte e acredita que, acima de tudo, o projeto ajudou-a a aperfeiçoar o domínio da língua e "a perceber a cultura portuguesa".
"Foi um momento muito importante de integração", frisou.
Já Diana, de Coimbra, nos seus 19 anos nunca tinha ido ao teatro. Foi pela primeira vez pela mão do Bando à Parte e classifica o projeto de "espetacular".
No espetáculo que foi apresentado no sábado, interpreta uma "fã fanática" de David Carreira, que na história espera apanhar um comboio para Guimarães, mas acaba por decidir ir para Marte.
O projeto aborda isso mesmo - "novos caminhos, novos conhecimentos", sublinha Diana, que ao início estava reticente em participar e hoje leva toda a gente que conheceu "no coração".
"Sempre nos puxaram para cima", vincou.
"O teatro obriga-me a expor os meus medos. Nós temos medo por algum motivo, de errar, de as pessoas se rirem. Isto fez-me mudar. Temos que ultrapassar os medos. É como uma poça de água que temos que passar ao lado, em frente ou por cima", realça Teresa Santos, de 19 anos, a viver na Casa da Infância Doutor Elísio de Moura.
A jovem, que desde "muito pequenina" cantarolava ou imitava a mãe a lavar a loiça, sentiu-se inspirada pelo projeto e diz acreditar que o Bando à Parte a ajudou a lutar pelos seus objetivos.
"Mudaram a Teresa que entrou aqui. A Teresa que entrou não vai ser a mesma que vai sair", disse.
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