Ele criou uma empresa de captura e venda de animais marinhos vivos para todo o mundo, a “Flying Sharks”, e um marca de lingerie, a “Alalunga”. Já lançou dois livros de memórias, “Sex, Sharks And Rock And Roll”, e o terceiro só precisa de editora para sair. Do Cartaxo, de onde é natural, ao Bimini Shark Lab, nas Bahamas, o especialista em tubarões confessa que tudo começou com o icónico filme de Steven Spielberg, “Jaws”.
Na candidatura à Universidade, João Correia preencheu apenas uma opção: Biologia Marinha, na Universidade do Algarve. Onde entrou e “logo muito cedo” começou a procurar lugares para estágio com tubarões “lá fora”. Passava horas na biblioteca da Faculdade a ler papers. Interessavam-lhe sobretudo os padrões de comportamento dos tubarões. Foi isso que o levou a escrever cartas aos investigadores que assinavam esses mesmos documentos científicos. Cartas cujas respostas ainda hoje guarda. Acabou por decidir rumar às Bahamas, onde durante seis meses esteve a estudar o comportamento destes animais.
Mestre em ecologia marinha e doutor em pesca comercial de tubarões e raias, é atualmente consultor na área e professor na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche. Passou pelo Jardim Zoológico e pelo Oceanário de Lisboa. “O gajo dos tubarões” esteve à conversa com o SAPO24. Num registo descontraído, pontuado de humor e paixão por aquilo que faz, mostrou porque é que quando o assunto são tubarões, o primeiro nome que vem à conversa é seu.
Antes que fique a dúvida, estudar estes animais é de uma importância maior. Em primeiro lugar porque “os tubarões estão no topo da cadeia alimentar”. “Ora, quando o topo de uma cadeia alimentar se desagrega, a cadeira alimentar toda sofre”, explica João Correia. “Os tubarões têm um papel chave nesta macacada toda porque se o topo de uma pirâmide alimentar for ao ar, a pirâmide toda cai”, diz-nos num estilo livre, pouco habitual quando falamos com alguém com um currículo como o seu.
E em Portugal, há tubarões? Segundo o especialista, há 46 espécies de tubarões e raias. As alterações climáticas trouxeram mais espécies às nossas águas, mas ao contrário do que acontece em outros países, como a Austrália ou África do Sul, no nosso, a sua presença não é muito visível, com exceção dos Açores, “o paraíso dos tubarões”. Onde, embora seja pouco frequente, diz, não deixa de aparecer o tubarão-branco. Já aqueles que nos visitam com maior frequência são o tubarão-anequim, o tubarão-azul, o tubarão-martelo, o tubarão-baleia, o tubarão-frade e muitos tubarões de profundidade.
Quem vai de férias nas próximas semanas pode ficar descansado. “Não há absolutamente nenhum registo de ataque de tubarão em Portugal”, afirma João Correia. “Os tubarões de grande porte não se aproximam da nossa costa. Os únicos tubarões que temos mesmo perto [da nossa costa] são muito pequenitos. Bicharada de 50 e 60 centímetros que têm mais medo de nós que nós medo deles”, garante o especialista. “Coloco as minhas mãos no fogo, não há perigo absolutamente nenhum”.
Mas se por acaso, entre braçadas, encontrar um tubarão, saiba o que deve fazer. “Se aparecer um tubarão na nossa costa, é sacar da GoPro e partilhar as fotos no Facebook”. A não ser... “A não ser que apareça um tubarão-branco de cinco metros pelas nossas costas... aí então, definitivamente, é para sair da água”. Mas isso seria “como ganhar a lotaria, uma vez num bilião”, brinca. E “se a pessoa ficar na água, está a pedi-las”.
Ainda assim, João Correia partilha que recebe todos os anos, por altura do verão, vários alertas das autoridades de tubarões perto das praias portuguesas.
No entanto, "na esmagadora maioria das vezes é o famoso tubarão-frade" que não representa qualquer perigo para a população. “Os tubarões não são de todo aquela besta assassina que a malta acha”, esse é um dos maiores mitos que envolve estes animais.
Algumas espécies de tubarão, como a do tubarão-branco, continuam ainda sob ameaça de extinção. Porém, fruto de um trabalho de proteção, da legislação e do esforço internacional, outras começam lentamente a recuperar.
As coisas são hoje muito diferentes do que quando começou nesta área há 20 anos, a perceção relativamente aos animais mudou: “os tubarões hoje em dia têm um estatuto diferente, de bicho fofinho como os golfinhos”. Os aquários e os jardins zoológicos têm desempenhado um papel “brutal na educação das pessoas”, na sua opinião.
E há rivalidade entre quem estuda os dois animais? Não há rivalidade, mas sim “um picanço saudável”. “A malta dos tubarões tem sempre a mania que a malta dos golfinhos são uns 'nhonós'; e a malta dos golfinhos acha que nós gostamos de tubarões só porque gostamos de ser diferentes e gostamos do perigo”.
Apesar de se estarem sempre a picar uns aos outros nas redes sociais, confessa, todos têm o mesmo objetivo: “proteger a bicharada”.
João Correia deu esta sexta-feira uma "aula sobre tubarões" a bordo de um veleiro no rio Tejo, em Lisboa, a propósito do regresso da Shark Week ao Discovery Channel Portugal.
Entre 23 e 30 julho, o canal estreia 18 programas com destaque para o documentário protagonizado pelo melhor nadador de todos os tempos, Michael Phelps. O norte-americano, que já bateu todos os recordes frente a outros humanos, vai agora desafiar um tubarão. "Tubarão contra Phelps", qual será o resultado?
Sem saber qual o desfecho, o ‘”nosso” especialista em tubarões acredita que ganham os dois. Apesar de Phelps ter batido todos os recordes que há para bater e “ser um ser humano de exceção”, o tubarão “vai ignorá-lo e fazer o seu papel, que é ser um bicho absolutamente extraordinário”.
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