Esta tragédia de Shakespeare tem encenação de Thomas Ostermeier, diretor artístico do Schaubühne de Berlim, e é protagonizada por Lars Eidinger, que, após a estreia dasta versão, em 2015, naquela sala na Lehniner Platz, na capital alemã, foi confirmado por críticos de teatro como um dos maiores ‘performers’ do nosso tempo, segundo o D. Maria II.
“Um vilão no palco para fechar uma década e começar outra a desejar menos vilões na vida”, disse o diretor artístico do Teatro Nacional, Tiago Rodrigues (Prémio Pessoa 2019), sobre a estreia da tragédia de Shakespeare, na sala Garrett, na terça-feira, às 18:00, onde terá mais duas récitas, na quinta e sexta-feira, às 19:00.
“Um espetáculo para levar connosco para o futuro”, “uma passagem de ano no Teatro Nacional para celebrarmos o poder fulgurante da palavra e da possibilidade de estarmos juntos, no Teatro”, é como o D. Maria II se refere à peça encenada por Thomas Ostermeier, já conhecido do público português, nomeadamente, pelos espetáculos que tem apresentado no festival de Almada.
A última vez que Thomas Ostermeier esteve em foco no Festival de Almada foi na 33.ª edição do certame, em 2016, onde apresentou duas peças: “A gaivota”, de Tchékov, pelo Théâtre Vidy-Lausanne (Suíça) e “Susn”, de Herbert Achternbusch, pela companhia bávara Münchner Kammerspiele.
Entre os prémios atribuídos ao encenador alemão nascido em Soltau, em 03 de setemebro de 1968, constam o Prémio Europa — Novas Realidades Teatrais, em 2000, e o Leão de Ouro que a Bienal de Veneza lhe atribuiu em 2011.
Nesta encenação de “Ricardo III”, Thomas Ostermeier coloca o ator alemão Lars Eidinger (1976) a fazer “crescer em palco um poderoso Ricardo III, um ‘outsider’ que nos conquista, nos entretém e nos revolve as entranhas, numa ‘performance’ musculada, tão rigorosa quanto selvagem”, acrescenta o texto de apresentação do D. Maria II.
“Ostermeier cobre-lhe as deformidades de artefactos ortopédicos, microfones e outras próteses, e faz a cena pulsar ao ritmo da bateria, dos ‘confettis’ e da lama, numa proximidade com a plateia, assinalada desde o início do espetáculo”, sublinha o D. Maria II.
Falado em alemão, com legendas em português, “Ricardo III” estreou-se em 07 de fevereiro de 2015, na Schaubühne Berlin.
A interpretar esta tragédia, que é uma das primeiras peças de O Bardo, e que foi encenada pela primeira vez por volta de 1593, estão Bernardo Arias Porras, Carolin Haupt, Christoph Gawenda, David Ruland, Jenny König, Lars Eidinger, Moritz Gottwald, Robert Beyer, Thomas Bading, Thomas Witte.
A tradução é de Marius von Mayenburg, que, desde 1999, é encenador e dramaturgista residente na Schaubühne am Lehniner Platz.
Marius von Mayenburg é outro dos dramaturgos representados com frequência em Almada. Em 2018, o diretor da Companhia de Teatro de Almada, Rodrigo Francisco, encenou “Mártir”, depois de ter estreado a peça “O feio”, também do dramaturgo alemão, na edição de 2016 do Festival de Almada. “Perplexos” foi outro dos textos de von Mayenburg levados ao Teatro Municipal Joaquim Benite, em 2019, desta vez por Cristina Carvalhal, que também a apresentou no São Luiz, em Lisboa, e que também já encenara “A pedra”, do autor alemão, com As Boas Raparigas, no Porto.
“Ricardo III” tem dramaturgia de Florian Borchmeyer, música de Nils Ostendorf, cenografia de Jan Pappelbaum, e figurinos de Florence von Gerkan, com colaboração de Ralf Tristan Sczesny.
O desenho de luz é de Erich Schneider, as marionetas foram criadas por Ingo Mewes e Karin Tiefense, e a sua manipulação está a cargo de Dorothee Metz e Susanne Claus.
A coreografia de lutas desta produção da Schaubühne Berlin é de René Lay e, o vídeo, de Sébastien Dupouey.
A apresentação da peça em Portugal conta com o apoio do Ministério Federal das Relações Externas da República Federal da Alemanha e do Goethe-Institut Portugal.
As três récitas de “Ricardo III” já se encontram esgotadas.
Na sexta-feira, das 15:00 às 18:00, Thomas Ostermeier dará uma ‘masterclass’ sob o tema “Mapear a democracia”, no contexto de “Ricardo III” e de uma outra encenação recente, no seu percurso: “Um inimigo do povo”, de Henrik Ibsen (1828-1906).
Que espaço têm a verdade e a transparência numa sociedade mercantilizada, é uma das questões levantadas em torno da obra do dramaturgo norueguês.
Em 2012, Thomas Ostermeier adaptou este texto clássico do teatro em que uma das cenas cruciais do espetáculo conduzia a uma discussão na qual o público podia participar.
Uma equipa de vídeo acompanhou a digressão mundial desta encenação de “Um inimigo do povo”, e documentou diferentes reações do público, em diferentes partes do mundo.
Nos vídeos, verifica-se que a presente situação social e política vivida em cada lugar tem impacto direto na maneira como o público reage, podendo ainda observar-se a maneira como diferentes cidadãos expressam as suas expectativas e frustrações relativamente à influência que cada um terá na vida política do seu país, “por vezes de uma forma surpreendentemente aberta e corajosa”, refere o Teatro D. Maria II.
Dirigida a artistas e estudantes de artes performativas, durante a ‘masterclass’ – cujas inscrições terminam hoje – serão exibidos alguns destes vídeos.
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