No encalço da esquiva variante do vírus

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

O título deste texto remete para o de um romance policial e não é por acaso. Há que fazer trabalho de detetive epidemiológico para responder a esta pergunta: será que a nova variante do SARS-CoV-2 já está a circular em Portugal continental?

Os ingredientes para esta trama foram ontem fornecidos pelo Presidente do Governo Regional da Madeira. Aos jornalistas, Miguel Albuquerque confirmou que tinham sido detetados na região autónoma 18 casos positivos de covid-19 infetados por uma estirpe identificada no Reino Unido que é mais contagiosa.

Ora, 17 dos casos apontados por Albuquerque foram justamente turistas vindos desse país, mas o derradeiro 18.º foi descrito como proveniente “da região de Lisboa e Vale do Tejo”. Sem dar mais detalhes, o líder regional acabou por sugerir em primeira mão que tal variante do vírus já tinha entrado no continente.

Tal revelação motivou contactos do SAPO24 com a Direção-Geral da Saúde e com o Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA), com a primeira a remeter explicações para o segundo, que não respondeu. As respostas, todavia, chegaram hoje, por via da habitual conferência de imprensa para fazer um ponto da situação da pandemia em Portugal.

Sentado ao lado da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, João Paulo Gomes, investigador do INSA, desmentiu Albuquerque: "Relativamente à circulação da nova variante na capital, nós ainda não temos indicação que isso aconteça. Embora tenha sido noticiado a existência de um caso associado a Lisboa e Vale do Tejo essa informação não se confirma. Os 18 casos são casos exportados", disse.

Não se saber se a estirpe está no continente não significa que a mesma não tenha atravessado as fronteiras nacionais, pelo que o INSA se encontra a “perseguir esta variante no país e a tentar encontrar outras também”. Para tal, além de servir-se dos dados já obtidos na Madeira e os que já tinham sido apurados no estudo de sequenciação genómica do vírus do SARS-Cov-2, o instituto está a seguir “duas pistas”.

  • “Uma relacionada com o historial de viagens ao Reino Unido”;
  • “Outra com o facto de se ter constatado que alguns testes utilizados para o diagnóstico da covid-19 - e que se baseiam em várias regiões do vírus - “por vezes falham uma dessas regiões”

“Dentro de dias podemos fazer uma atualização sobre o facto de esta variante estar ou não a circular já no continente", assegurou João Paulo Gomes. No entanto, poderão esses dias ser demasiados?

Encontrando-nos no período pós-Natal — em que, apesar de se saber que 157 mil pessoas estiveram em isolamento, muitas famílias estiveram reunidas — e pré-passagem de ano — onde, apesar das restrições, se prevê um acumular de contactos — é de temer que, caso a estirpe já tenha chegado, o número de casos escale.

Como pior exemplo disso está o Reino Unido, país onde a variante foi detetada e que hoje chegou a um novo máximo de 53 mil novos casos em 24 horas, sendo que os especialistas atribuem a explosão ao cocktail da nova estirpe e do Natal.

Por via das dúvidas, o melhor mesmo é — apesar dos dias que correm serem de algum otimismo pela continuação bem-sucedida do processo de vacinação contra a covid-19 — manter todos os cuidados.

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