O professor de Segurança Internacional na Universidade de São Francisco considerou, em entrevista à Lusa, que os efeitos da desinformação e manipulação são difíceis de avaliar, mas mensuráveis por exemplo na recente pandemia de covid-19, sustentados num estudo que apontava que 6% dos norte-americanos estavam convencidos de que não precisavam de vacinas.
Nos Estados Unidos, a covid-19 provocou mais de um milhão de vítimas, o que significa, segundo Doowan Lee, que “cerca de 75 mil pessoas morreram de porque foram expostas a desinformação:
“É como, literalmente, a vida e a morte. E a desinformação mata pessoas”, afirmou.
A título de comparação, aquele número, referiu, é 25 vezes superior às mortes provocadas pelos atentados do 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington.
De visita a Portugal para participar a convite Universidade do Minho e também para proferir uma palestra na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, em Lisboa, sobre “Soberania e Democracia em Risco: Estratégias de Soluções Cibernéticas e de Informação Contra o Extremismo e a Autocracia”, Doowan Lee disse que a cadeia de desinformação é liderada pela China e pela Rússia, com um objetivo.
“Uma das suas principais mensagens tem sido minar a capacidade, a confiança das democracias ocidentais para que eles possam justificar a razão por que têm de se permanecer [estados] autocráticos e, essencialmente, tão opressivos quanto puderem”, observou.
Já “provas mais do que suficientes”, adiantou, de que muita da desinformação, em concreto sobre a covid-19 e a vacinação, é proveniente de meios de comunicação, contas de redes sociais e ‘blogs’ e outros sítios “intimamente associados ao Partido Comunista Chinês e ao Kremlin” e que depois são amplamente partilhados.
O especialista sustentou, porém que o mundo já acordou para esta realidade e que cada vez mais pessoas estão preocupadas com o que o Partido Comunista Chinês está a fazer no ambiente de informação, seja ataques cibernéticos, roubo de endereços IP ou propaganda ou desinformação, como sucedeu nas eleições nos Estados Unidos em 2016 e atualmente na guerra na Ucrânia.
Os Estados Unidos e a Europa “têm sido mais ativos para detetar e combater a desinformação russa”, mas ações muito ativas do Partido Comunista Chinês têm ajudado o Kremlin a promover a sua narrativa.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia é, por sua vez, “um grande exemplo”, porque as autoridades perceberam, após a anexação russa da Crimeia e da crise no Donbass (leste do país), em 2014, que enfrentavam uma ameaça de desinformação, ataques cibernéticos e propaganda tão grandes, promovida pelo Kremlin”, que não conseguiam resolvê-la sozinhos.
Desde 2014, o Governo de Kiev começou a trabalhar com empresas de tecnologia, sociedade civil, ‘think tanks’ e jornalistas ucranianos, mas também europeus e norte-americanos, num “enorme consórcio de verificadores de factos”, em que Doowan Lee esteve envolvido, o que levou a que Ucrânia esteja hoje muito mais preparada para ameaça russa e chinesa do que no passado.
Os Estados Unidos e a Europa têm, por sua vez, trabalhado muito bem, opinou, para serem capazes de detetar e essencialmente repelir a desinformação estrangeira ou extremista”, criando o que chama mais inoculação ou imunização, por via de centros de excelência e envolvendo entidades como a União Europeia ou a NATO.
No entanto, advertiu, não existe a mesma capacidade quando se trata de segurança da informação em regiões como África, Sudeste Asiático ou América Latina, que não foram preparados para detetar, defender-se, denunciar e desmascarar as campanhas estrangeira e extremistas e “esses são os ambientes onde as narrativas russas sobre a guerra na Ucrânia ganham mais atração”, tal como no passado recente sucedeu com a pandemia, atacando os mais vulneráveis.
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