Em entrevista à agência Lusa, o gestor de empresas de 75 anos “culpou” a esquerda portuguesa, a comunicação social em geral, mas também o PSD – como um todo e não a atual direção de Rui Rio -, pelo fenómeno de ascensão eleitoral do líder populista, André Ventura, rejeitando, para já, qualquer entendimento entre os partidos.
“O PSD teria, teoricamente, três opções: preparar um acordo futuro com o Chega, que rejeito; ignorar o Chega, que rejeito; ou encarar claramente a questão e optar por um tipo de política diferente. O PSD deve, como todos os partidos e cidadãos, reconhecer o Chega como partido legítimo. Se meio milhão de votos não são legítimos, então é o povo que tem de se demitir”, ironizou.
Segundo Ângelo Correia, “o erro do PSD – que o comete há dois anos -, é não ter percebido a emergência de realidades destas e, quando não se faz isso a tempo e horas, deixa-se crescer um fenómeno no espaço político que é diferente e hostil”.
“Para combater o Chega - o que é vital em Portugal -, é combater as causas que o legitimam. É ter medidas de política claras que se dirigem às pessoas para resolver os problemas. É o único caminho”, defendeu o membro da Assembleia Constituinte (1975) e da Assembleia da República (1976-1995).
O atual coordenador do Conselho Estratégico Nacional do PSD para a Defesa Nacional e antigo governante da Aliança Democrática (PPD/CDS/PPM) defende que “não se combate o Chega da forma como o PS, PCP e BE têm feito, que é exautorando-o e fazer a sua vitimização”.
“O Chega teve esta força porque a esquerda portuguesa lha deu. A única maneira é combater as causas, se ainda for possível”, vincou.
Ângelo Correia elegeu a comunicação social como “a maior responsável de todas porque propala todos os dias uma realidade que é aquela que ela quer ver e não aquela que existe”.
O candidato presidencial do Chega foi o segundo mais votado em toda a faixa interior do país, de Bragança a Beja, mas também em Faro, Leiria e na Madeira.
“Têm de pôr, uma vez na vida, a mão na consciência, naquilo que dizem e repetem à exaustão sem ler nem perceber o país”, desejou, acrescentando que “já esperava” o resultado obtido por Ventura, pois, “há muitos anos que a sociedade portuguesa se orienta por valores dados pela comunicação social e não pelos valores e realidades que o país tem”.
O ministro da Administração Interna do VIII Governo Constitucional, liderado por Pinto Balsemão (1981-83), considerou haver “uma ignorância completa, deliberada em ler a realidade”, designadamente O “desempenho do poder político”, o “cuidado e atenção à representação política”, a “cada vez maior dificuldade”, o “atraso”, a “marginalização”, o “desemprego”, a “falta de dignidade”, o “papel do interior cada vez mais subalterno”.
Tudo “fatores que empobrecem e legitimam grande parte dos comportamentos de extremo”, daí a votação no Chega”, uma força política que representa “angústias, dificuldades, frustrações desencantos, um certo espírito de redenção dado da pior maneira”, continuou.
André Ventura alcançou 12% dos votos no sufrágio de domingo, ficando na terceira posição da corrida eleitoral ao Palácio de Belém, atrás do destacadamente reeleito Marcelo Rebelo de Sousa e a cerca de 45 mil votos da ex-eurodeputada do PS Ana Gomes.
O amigo próximo e conselheiro do ex-primeiro-ministro Passos Coelho, mas também de outro antigo líder “laranja”, Luís Filipe Menezes, classificou como “estranhos, complexos” os resultados dos candidatos apoiados por BE e PCP.
“No caso do PCP (João Ferreira, com 4,3%), uma relativa subalternização, que tem tido nas suas posições eleitorais. No caso do BE (Marisa Matias, com 4%), um conjunto de erros estratégicos que influenciaram negativamente a sua representante”, justificou.
O atual chefe de Estado e antigo presidente social-democrata foi reeleito à primeira volta, com 61% dos votos.
“Grande vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, que é dele, não dos partidos que o apoiaram (PSD e CDS-PP). Em grau menor, é também dos partidos que o apoiaram, mas nunca esquecendo que a vitória é dele, pessoalmente”, sublinhou.
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