Ao basear-se em inquéritos junto das famílias, as estatísticas oficiais em Portugal não captam as situações daqueles que não vivem em residências habituais, como as pessoas em situação de sem-abrigo, por exemplo. E é por isso que “subestimam a magnitude da pobreza e exclusão em Portugal”, denuncia a Cáritas Portuguesa na introdução ao seu mais recente estudo, que será apresentado esta terça-feira, 27 de fevereiro, na Universidade Católica Portuguesa, no Porto.
Intitulado “Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas”, o estudo – coordenado por Nuno Alves – é a primeira edição de um trabalho promovido no âmbito do Observatório Cáritas, tendo por base a análise dos indicadores oficiais do INE e a leitura do Observatório sobre os mesmos.
Os reclusos nas prisões e os nacionais ou migrantes que vivem em alojamentos temporários são outros dos casos que “não se encontram refletidos nas estatísticas oficiais”, assinala esta análise. “E sabemos que vários deles têm aumentado acentuadamente no passado recente. Por exemplo, o número de pessoas em situação de sem-abrigo aumentou de 7.100 em 2019 para 10.800 em 2022, último ano com estatísticas disponíveis. Em 2023, esta tendência ter-se-á acentuado. Tanto os pedidos de apoio à Cáritas como a mera observação das ruas das grandes cidades atestam esta dinâmica. Os pedidos de apoio à Cáritas por parte de imigrantes também têm crescido acentuadamente nos últimos anos”, pode ler-se na introdução ao estudo, já divulgada.
Uma das conclusões da análise é, por isso, que em Portugal “subsistem níveis elevados de pobreza e exclusão extremas”. Em 2023, existiam em território nacional mais de 500 mil indivíduos a viver, segundo dados de 2023, “numa situação de privação material e social severa”. De acordo com o Observatório, que comparou este valor com os de anos anteriores, “entre 2019 e 2023, não se observaram progressos significativos no combate à pobreza mais extrema em Portugal”. Pelo contrário, alerta o estudo da Cáritas, “em várias dimensões, a situação até se deteriorou. O aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo ou sem capacidade de manter a casa aquecida são disso exemplos claros”.
O relatório, que terá uma frequência anual, assume uma perspetiva multidimensional, sublinhando que “a pobreza e a exclusão social são fenómenos que apenas podem ser combatidos com intervenções multidisciplinares, muitas vezes focadas em cada família e circunstância individual”.
Para Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, “esta reflexão, feita a partir da identidade da Cáritas, poderá ser um contributo para toda a sociedade, mas também para todos os decisores políticos que têm na sua atividade a possibilidade de desenhar políticas de resposta adequadas à resolução dos problemas daqueles que se encontram mais vulneráveis”.
A apresentação do estudo acontece no âmbito da Semana Cáritas, que vai decorrer de 25 de fevereiro a 3 de março, dia em que será realizado o habitual peditório nacional em favor desta organização que apoiou no ano passado mais de 120 mil pessoas.
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