Numa carta hoje dirigida ao chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, a que a Lusa teve acesso, Pavlo Sadokha agradeceu a posição de Lisboa de não reconhecimento da anexação de quatro regiões na Ucrânia, no seguimento da invasão russa em fevereiro do ano passado, que foram a eleições locais e regionais em 10 de setembro, mas alertou para os danos da presença de Manuel Pires da Rocha, deputado municipal em Coimbra pelo PCP, na imagem de Portugal.
“Vimos então pedir que o governo da República Portuguesa tome posição em relação a este caso e à estranha atitude do referido deputado da Assembleia Municipal de Coimbra, que, seja por instruções da organização partidária de que é agente, seja por irresponsabilidade ou desejo de protagonismo, contribuiu para macular a imagem que Portugal tem deixado tanto junto do povo ucraniano quanto da comunidade internacional”, escreveu Pavlo Sadokha.
O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal citou o ministro dos Negócios Estrangeiros quando disse que as anexações, decretadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, em setembro do ano passado, das regiões de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporijia foram “uma violação grosseira dos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas” que Portugal “não reconhece nem reconhecerá”.
Nesse sentido, alegou que a visita do deputado do PCP está em “clara violação” das leis da Ucrânia e do direito internacional, “colaborando assim com as manobras de propaganda e as encenações promovidas pela potência invasora”.
Sadokha lembrou também às “sanções maciças e sem precedentes contra a Rússia” da União Europeia e expressou gratidão pelo apoio de Portugal à Ucrânia e às visitas que o ministro português realizou a este país.
Também hoje, o Centro para a Integridade Democrática (CID) — uma ONG que analisa tentativas de regimes autoritários para influenciar politicamente as sociedades — informou que identificou 34 estrangeiros não-russos que foram envolvidos pelo Kremlin (Presidência russa) na observação das eleições naquelas zonas ocupadas.
“Ao entrar ilegalmente nos territórios ucranianos, todos os ‘observadores internacionais’ violaram leis ucranianas, e apelamos às autoridades nacionais relevantes para que informem os seus cidadãos sobre as consequências que podem enfrentar pela sua participação nos esforços da propaganda russa”, disse o CID, num comunicado.
O CID reconhece que não é possível determinar o número exato de “observadores internacionais” envolvidos no processo, mas estima que o Kremlin tenha organizado quatro grupos de até 10 elementos nas zonas ocupadas de Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporijia, indicando, porém, que pelo menos 34 elementos foram identificados, incluindo de Portugal, Brasil e Moçambique.
No passado domingo, dia 10 de setembro, a Rússia realizou eleições regionais e municipais, numa votação alargada às regiões que anexou à Ucrânia, apesar da condenação de Kiev e da generalidade da comunidade internacional.
A votação, que foi iniciada no dia 08 de setembro em algumas zonas, englobou a península da Crimeia, anexada em 2014, e as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas já depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, em 24 fevereiro de 2022.
Kiev e os seus aliados, nomeadamente a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, consideraram que as eleições nos territórios ucranianos ocupados foram ilegais e não terão quaisquer consequências jurídicas.
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