A portaria do Ministério do Ambiente que fixa o limite diário entrou em vigor em 23 de maio, mas, em resultado da baixa procura nestas primeiras semanas, não houve qualquer fiscalização junto das embarcações marítimo-turísticas que transportam os visitantes para a ilha.
A partir de hoje, começa a haver controlo pelas autoridades e os operadores estão limitados a fazer duas viagens diárias.
“Desde 2017 que já havia, na época alta, três viagens por dia. Agora estamos mais limitados e o que me preocupa não é deixar visitantes em terra, mas as embarcações estarem impedidas de trabalhar”, refere Renato Rodrigues, um dos operadores, à agência Lusa.
Os operadores defendiam, em alternativa, um limite de 570, a soma da lotação das 24 embarcações existentes.
“O ideal era os 570 para que todos pudessem ir, porque os 20 fazem falta e, se se der o caso de todos irem, vai haver alguém que vai ter de ficar em terra”, adverte o presidente da Associação dos Operadores Marítimo-Turísticos de Peniche, José Manuel Fernandes.
Para Renato Rodrigues, “do ponto de vista económico, as empresas vão baixar os rendimentos”.
A opinião é partilhada pelo colega Sérgio Ferreira: “É prejudicial. Os operadores vão fazer menos dinheiro, mas a longo prazo vai ser benéfico, porque temos menos desgaste das embarcações e vamos oferecer mais qualidade às pessoas”.
Para manter a atividade e responder à quebra de rendimentos, os operadores admitem vir a aumentar o preço dos bilhetes.
Todos são unânimes em afirmar que a definição de uma capacidade de carga humana estabelece um maior equilíbrio entre o turismo e o ecossistema natural.
A reserva natural “podia começar a degradar-se e seria normal que as pessoas deixassem de gostar de visitar a ilha”, refere Sérgio Ferreira à Lusa.
As embarcações passam a estar proibidas de transportar e deixar visitantes na ilha, regressar a Peniche e transportar outro grupo de visitantes sem que o anterior tenha regressado a Peniche, reduzindo o tempo de permanência na ilha dos turistas.
Bernardo Ferreira, visitante, concorda que haja um limite de visitantes: “A Berlenga é uma reserva natural e temos de a preservar”.
Pela primeira vez em Portugal, de visita à ilha, a brasileira Patricia Bergantin é da mesma opinião.
“Agora tinha pouquíssimas pessoas e realmente foi um bom proveito desta reserva natural. Chegando mais pessoas, haver um limite para um espaço tão preservado é importante para a preservação da natureza”, refere.
“Há muito tempo que se esperava” que a definição de uma carga humana máxima “fosse implementada oficialmente”, diz Joana Andrade, coordenadora do projeto de investigação “Life Berlenga”, que nos últimos cinco anos implementou ações com vista à preservação do habitat natural da ilha.
Nos dias de verão, “havia mais de mil pessoas em simultâneo na ilha e acabava por haver um excesso de visitantes em alguns sítios”, lembra a bióloga da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.
A fixação de um limite, defende, vem “melhorar a própria experiência de visitação e facilitar o funcionamento das atividades na ilha em articulação com a biodiversidade”.
Mais de 80 mil turistas visitaram a reserva natural em 2018, de acordo com o relatório do “Projeto Life”, que termina este mês.
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