O trabalho, desenvolvido a pedido da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) para perceber, junto dos doentes e sobreviventes, de que forma a doença lhes alterou a vida, concluiu que o diagnóstico de cancro da mama levou 41% a recorrerem a ajuda profissional ao nível da saúde mental, metade dos quais com diagnóstico de depressão ou outra perturbação mental.
Os resultados, que vão ser hoje apresentados no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, indicam também que, dos que precisaram de apoio ao nível da saúde mental, mais de metade (57%) recorreu ao setor público (centro de saúde ou hospital) e 9% recorreu a mais de um local para ajuda psicológica ou psiquiátrica.
O estudo, que envolveu 1.000 inquéritos (97% mulheres) e foi realizado com o apoio da Roche, revela também que 27% dos doentes que aguardam a 1.ª avaliação de junta médica para emissão do atestado médico de incapacidade multiusos estão à espera há pelo menos um ano.
Contudo, as reavaliações “parecem ter tempos de espera mais longos em comparação com as primeiras avaliações”, sublinham os autores.
As conclusões revelam ainda que 21,1% dos inquiridos adiaram ou abandonaram o sonho de ter filhos e que apenas 15% das mulheres optaram por realizar a preservação da fertilidade.
“Uma percentagem consideravelmente elevada de mulheres não foi informada sobre a preservação da fertilidade ou decidiu não a realizar”, indica.
A maioria dos inquiridos nesta investigação foi diagnosticada com cancro de mama entre 2011 e 2019, 72% está em remissão e 24% está atualmente em tratamento. Apenas 3% da amostra tem doença paliativa e 9% estão a realizar tratamentos para uma recidiva da doença.
O estudo indica ainda que mais de metade dos inquiridos foram forçados a adiar ou a abandonar projetos de vida devido ao cancro da mama, entre eles a intenção de ser mãe ou ter mais filhos (21,1%), de viajar (19,8%) ou de escolher um percurso de carreira diferente (19,7%).
A LPCC é um “importante apoio” para estes doentes, tanto a nível psicológico como a nível social, com quase 30% a afirmarem ter tido apoio da Liga em consultas de psico-oncologia.
Por causa da doença, um em cada três casos precisaram de apoio/prestações sociais, mais de 80% do Estado e 10% recorreu à LPCC e 9% ao setor social ou outra instituição.
“Apesar de tudo, achamos que a Liga poderia ter apoiado mais estas pessoas. E aqui há também um trabalho a desenvolver para divulgar, para que as pessoas saibam, conheçam o tipo de apoios que podemos dar”, reconheceu, em declarações à Lusa, Sónia Silva, psicóloga da LPCC.
Apesar do impacto negativo a vários níveis na vida dos doentes e sobreviventes de cancro de mama, muitas mulheres relataram ter esperança.
“Pensamos sempre que o cancro se associa só a aspetos negativos na vida, mas há aspetos positivos: há uma experiência de desenvolvimento das pessoas, de crescimento, e este estudo também reflete essa realidade”, afirmou Sónia Silva.
A especialista partilhou ainda alguns aspetos positivos apontados pelos participantes neste trabalho: ‘Passei a dar mais importância à felicidade e saúde’, ‘Penso mais em mim’ e ‘Passei a dar mais valor às pequenas coisas o dia a dia’ são alguns dos exemplos.
“Este também pode ser um momento de aprendizagem na vida das pessoas”, afirmou.
Os dados do inquérito mostram ainda que uma em cada três doentes se sentiu confiante ou esperançosa quando soube que o cancro estava em remissão e que o medo de remissão é apontado como sendo moderado (41%) a elevado (43%) pela maioria (84%).
Um em cada três casos em remissão identificaram alterações nas suas vidas após saberem da remissão da doença, 37% dos quais passou a encarar a vida de forma diferente, 27% a viver de forma mais saudável e 12% envolveu-se em novos projetos/planos.
Quanto ao impacto na vida profissional, o estudo indica que a grande maioria dos inquiridos se encontra atualmente a trabalhar, 7% estão desempregados e 11% reformados. Dos doentes empregados, 88% está ou esteve de baixa prolongada no último ano e apenas 12% continuou sempre a trabalhar.
Para melhorar a vida profissional dos doentes e sobreviventes de cancro, os inquiridos sugeriram a redução ou alteração do horário de trabalho (61%), a possibilidade de mudar de posto de trabalho (39%), alterações nas funções que desempenha (35%) e algumas adaptações do local de trabalho (espaço físico) às necessidades (21%).
Produtividade perdida devido ao cancro de mama ultrapassa 1,1 milhões de euros
A produtividade perdida no último ano devido ao cancro de mama foi superior a 1,1 milhões de euros, segundo um estudo hoje divulgado.
O trabalho, desenvolvido a pedido da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC) para perceber o impacto social, profissional e económico do cancro da mama, calculou em 1.127.921.276€ a produtividade perdida no último ano, por baixas médicas ou faltas ao trabalho.
O estudo estimou a produtividade perdida devido ao cancro da mama para aqueles que estiveram de baixa durante pelo menos um dia, convertendo o número de dias de baixa em horas de trabalho perdidas, e para os que continuaram a trabalhar após o diagnóstico, mas faltaram ao trabalho pelo menos uma vez.
Para os que estiveram de baixa, o estudo indica 839 horas de trabalho perdidas por doente, num total de 1.113.264.422 euros de produtividade perdida em Portugal no último ano (19.960€/doente) e para os que continuaram a trabalhar, mas faltaram pelo menos um dia, aponta para 82 horas perdidas/doente, num total estimado de 14.656.854€ (1.954€/doente).
A produtividade perdida foi igualmente calculada para os acompanhantes dos doentes, com o estudo a estimar em mais de 248 milhões de euros (9.692€/pessoa) o impacto deste absentismo laboral.
Segundo o estudo, quase metade (45,8%) dos doentes disse que vai ao hospital acompanhado e, nestes casos, 69% dos acompanhantes trabalham.
O cancro da mama acarreta custos diversos para os doentes, sendo as consultas particulares e os medicamentos os principais. Os dados do estudo indicam que, no último ano, estes valores rondaram 907,87€/doente.
Os custos mais elevados são atribuídos a consultas no setor privado (298,07 €), seguidas dos medicamentos (152,50 €), os tratamentos não convencionais (106,27 €), próteses (79,24 €), roupa (55,86€) e custos de idas ao hospital (22,71€).
Há ainda um outro grupo de custos (193,22€) que envolvem a compra de cremes, sutiã cirúrgico, manga elástica, turbantes/chapéus, exames, tratamentos e fisioterapia.
O estudo, que teve o apoio da Roche e envolveu 1.000 inquéritos junto de 1.000 pessoas (97% mulheres) que têm ou já tiveram cancro de mama, conclui ainda que a saúde destas pessoas “é consideravelmente pior” do que a da população portuguesa relativamente às atividades habituais e, sobretudo, nas dimensões dor/mal-estar e ansiedade.
Os resultados são hoje apresentados no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
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