O Conselho Geral da Cáritas Portuguesa reuniu-se no sábado e hoje em Fátima, onde estiveram representadas 17 Cáritas Diocesanas, das 20 que o constituem.
“Além da parte estatutária e do orçamento do próximo ano”, foi “decidido criar um grupo de trabalho, com o apoio do especialista Caldeira Dias, para ser criado um plano de intervenção em situações de emergência”, adiantou Eugénio Fonseca.
Este plano, adiantou, será aplicado pela Cáritas de Portugal, em articulação com as restantes Cáritas e instituições de proteção civil.
O objetivo é que “fique clarificado o lugar [que a Cáritas] deve ocupar neste tipo de intervenção, queremos apostar forte na prevenção”, sublinhou.
Este grupo de trabalho, que deverá apresentar medidas “dentro de quatro a seis meses”, “não vai tratar apenas de incêndios, mas também de cheias e sismos”, segundo o presidente da Cáritas Portuguesa.
O responsável disse ainda que nestas medidas está incluído um “plano de formação básica para todos aqueles que o pretendam” frequentar.
“Queremos estar preparados para a próxima época de incêndios”, sublinhou, recordando que desde que lidera a Cáritas que praticamente todos os anos o país é assolado por fogos, sendo que este ano se “tratou de uma situação muito especial”, onde morreram mais de 100 pessoas em Portugal.
“Temos um tempo até ao verão para criar condições para prevenir aquilo que pode ser perfeitamente atenuado. É preciso controlo, fiscalização e limpeza das florestas”, o que deve ser acompanhado de “luta contra a desertificação”, considerou.
Do encontro, saiu reforçada a necessidade de integrar no plano de ação de emergências uma resposta de apoio psicológico e espiritual adaptada às circunstâncias da população e aos dramas vividos, segundo a entidade.
Relativamente aos incêndios deste ano, Eugénio Fonseca questionou o que vai acontecer às pessoas depois de lhes serem entregues as casas reconstruídas.
“Quem as vai ajudar a conviver com esta tragédia”, perguntou, defendendo a necessidade de apoio psicológico, uma vez que as pessoas vão ter de lidar com as “recordações”.
“Gostaríamos de ter psicólogos e preparar pessoas da vizinhança, que podem ser o farmacêutico, o dono da mercearia ou a igreja, para perceberem quando é que surgem esses momentos de nostalgia” e, desse modo, ajudar a evitar “doenças como a depressão ou psicossomáticas”.
Na sua opinião, “não se pode entregar a chave [às pessoas] e pensar que tudo está concluído”.
Eugénio Fonseca alertou ainda para que, apesar de Portugal estar numa “situação económica bem diferente da que atravessou nos últimos anos”, é preciso ter cautelas.
“Os postos de trabalho que estão a ser criados são estáveis? Os salários são suficientes?”, questionou, acrescentando haver a “sensação de que muita gente está a trabalhar com magros salários e a pagar os seus empréstimos”.
Além disso, apesar da situação económica mais favorável, “temos de estar atentos para que este otimismo não nos leve para a sedução de um mercado que não olha a meios” para que as pessoas gastem mais do que podem.
“Há que dar sustentabilidade a esta ténue situação favorável do país, é bom ter a consciência de que a crise ainda não passou”, já que há “desempregados de longa duração”, com pouco mais de 30 anos, “com uma vida pela frente”, concluiu Eugénio Fonseca.
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