“Crianças sem urgência, viagem em emergência”; Urgência já” e “Viseu é Portugal” foram algumas das palavras de ordem que soaram no Rossio e acompanharam a marcha lenta que percorreu cerca de quatro quilómetros até à porta do hospital.
Com concentração marcada para as 10h00, o protesto foi convocado em grupos de ‘whatsapp’ e nas redes sociais e, ao longo de mais de uma hora ouviram-se testemunhos de situações ocorridas desde 1 de março, dia em que as urgências pediátricas começaram a encerrar ao exterior, no período noturno, de sexta-feira a domingo.
Olga Marino usou do microfone para contar que “a médica que estava nas urgências não se dignou a sair”, já que as urgências pediátricas estavam de porta fechada, para ver a filha de 13 anos, “que tinha queimaduras no peito e no braço”.
“Dentro da urgência chamaram o INEM e ninguém a veio ver nem aliviá-lo do sofrimento. A minha filha foi para Coimbra, onde esperou cerca de 45 minutos para ser atendida, sempre em sofrimento”, relatou Olga Marino.
Também Sónia Sousa contou um episódio passado com a filha, que tem um aneurisma.
“O próprio hospital em Coimbra pede para ir diretamente para lá, como já aconteceu. Ou seja, sou eu no meu carro que tenho de fazer aquele IP3, que tem o apelido de estrada da morte, com a minha filha numa situação de fragilidade devido ao aneurisma, para ser vista em Coimbra”, apontou Sónia Sousa.
Alguns pais questionaram-se “como é que Viseu é considerada a melhor cidade para se viver se não pode, sequer, prestar os cuidados de saúde mínimos às crianças”.
Filipa Monteiro, mãe de três filhos, disse à Lusa que não entende “onde é que estão os representantes da cidade e da região que não estão no Rossio a dar a cara pela população que os elegeu e que tem obrigação de defender a sua comunidade”.
Também David Couto apontou o dedo “aos políticos que em campanha andam junto das pessoas a ‘passar a mão no pelo’ e, na hora em que se deviam juntar às pessoas não aparecem”.
Mães e pais partilharam histórias e defenderam os médicos, que “estão obrigados a escolher se atendem ou não e não deviam ter de o fazer” e exigiram que as urgências pediátricas estejam abertas 24 horas por dia.
“Parece ironia que o Dia Internacional da Criança seja o primeiro dia de um mês em que não haverá urgências pediátricas à noite. As crianças são o nosso futuro e merecem-nos mais respeito”, defendeu uma das mentoras da manifestação.
Helena Fonseca, grávida de cinco meses e com uma filha de três anos disse à Lusa que “foi impossível ficar sem fazer nada perante a notícia do encerramento” e, juntamente com dois ou três amigos, também pais, a “ideia começou a ganhar corpo”.
“Já lemos que o hospital atende em caso de vida ou morte, mas isso é o quê? Perante os testemunhos já ouvidos, ninguém sabe o grau de gravidade necessário para se ser atendido ou mandarem-nos para algum lado”, acrescentou Helena Fonseca.
Carlos Dinis, pai de uma criança de nove anos e duas de quatro, também da organização e bombeiro, acrescentou à Lusa que, “por este andar é Coimbra que um dia destes se vai queixar por falta de capacidade de resposta”.
No Rossio estiveram representantes de partidos políticos como do Partido Comunista Português (PCP) e do Bloco de Esquerda (BE), com a passagem pelo local de Catarina Martins que estava em campanha eleitoral para as eleições europeias.
Ao microfone, Helena Fonseca assumiu que a manifestação era “cívica e apartidária, mas que todos os partidos políticos eram bem-vindos” ao grupo, “pela luta de um serviço tão básico como o de prestação de saúde às crianças”.
Depois da manifestação de hoje, está agendada uma vigília noturna para a próxima sexta-feira à noite à porta da urgência pediátrica da ULSVDL.
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