Os republicanos, que se apresentam confiantes e em sintonia, num contraste evidente com os rivais democratas, internamente divididos no apoio à recandidatura do Presidente Joe Biden, foram surpreendidos no sábado por disparos efetuados durante um comício na Pensilvânia, que deixaram Trump ferido numa orelha.

Duas pessoas morreram, incluindo o alegado atirador, que foi identificado pelo FBI como um homem de 20 anos, natural da Pensilvânia. O acontecimento provocou reações de repúdio e condenação da violência por parte de vários países e da União Europeia.

Depois de grantida a segurança no evento, Trump ergueu o punho numa atitude de desafio, debaixo de aplausos dos apoiantes, naquele que foi o último comício antes da convenção republicana, onde será oficialmente nomeado candidato do Partido Republicano contra o Presidente democrata, Joe Biden, nas eleições de novembro.

A Convenção Republicana, que decorrerá de segunda a quinta-feira, terá como ponto alto a oficialização da candidatura de Donald Trump à Casa Branca, sendo também esperado o anúncio do candidato do partido a vice-presidente. O magnata republicano garantiu a maioria dos delegados durante as primárias no início deste ano, pelo que a sua nomeação em Milwaukee está garantida e é considerada uma formalidade.

Eis alguns pontos essenciais sobre o que esperar da Convenção Nacional Republicana:

Funcionamento da Convenção

A Convenção, que acontece de quatro em quatro anos, receberá "mais de 50.000 convidados, incluindo os delegados que nomearão o próximo Presidente e vice-presidente dos Estados Unidos", segundo a organização.

Na prática, os delegados angariados ao longo das eleições primárias republicanas em todos os estados e territórios norte-americanos devem aprovar e designar formalmente o duo que disputará o sufrágio, agendado para 05 de novembro.

O encontro político contará ainda com discursos de nomes sonantes do Partido Republicano e de figuras em ascensão, além de destacar a posição do partido em tópicos como aborto, imigração e economia.

A principal rival de Trump durante as eleições primárias, Nikki Haley, não pisará o palco. Em vez disso, os delegados ouvirão, entre outros, o governador da Florida, Ron DeSantis, que desistiu da sua campanha presidencial após as primárias de Iowa e apoiou imediatamente Donald Trump.

Nomeação de Trump e do seu vice-presidente

O ex-presidente Donald Trump será oficialmente nomeado candidato presidencial republicano nesta Convenção de quatro dias, apesar de se tratar de uma formalidade, uma vez que garantiu a maioria dos delegados durante as primárias.

Nesse sentido, espera-se que Trump aceite a nomeação com um discurso em 18 de julho, a noite final da convenção.

Apesar da certeza da nomeação de Trump, ainda não se sabe quem será o "número dois" do ex-presidente, mas uma lista de possíveis candidatos engloba o senador da Florida Marco Rubio, o também senador JD Vance, do Ohio, e o governador de Dakota do Norte, Doug Burgum.

É esperado que Trump anuncie na segunda-feira o seu companheiro de corrida eleitoral, que, por sua vez, deverá discursar na convenção em 17 de julho.

As mensagens da Convenção

As convenções servem, principalmente, para animar eleitores e principais apoiantes de cada partido. Contudo, acabam por atrair grandes audiências televisivas e virtuais que incluem um eleitorado mais amplo.

Tendo essa abrangência em conta, a campanha de Trump delineou mensagens diárias voltadas para vários tipos de público, com temas ligados ao lema de campanha do magnata “Make America Great Again” ("Tornar a América Grande Novamente", na tradução para português).

O tema do primeiro dia de Convenção será economia: “Tornar a América rica novamente” e, na terça-feira, o mote será o crime e a imigração, com o painel “Tornar a América Segura Novamente”.

Quarta-feira é o dia da segurança nacional, com o "Tornar a América Forte Novamente", e na quinta-feira, último dia de Convenção, o foco irá todo para o próprio Trump, com o programa “Make America Great Once Again".

Momento de contraste entre os Partidos Republicano e Democrata

A aparente sintonia no Partido Republicano contrasta com a do Partido Democrata, que por sua vez realizará a sua Convenção Nacional em Chicago, de 19 a 22 de agosto.

O ponto de discórdia centra-se na crescente resistência à campanha de reeleição do Presidente em exercício, Joe Biden,

As preocupações em torno da idade de Biden (81 anos) e das suas condições físicas e cognitivas não são um tema recente, mas ganharam maior dimensão após um amplamente criticado desempenho no debate com Donald Trump, no final de junho.

Até ao momento, cerca de duas dezenas de democratas do Congresso norte-americano já pediram a Biden que se retire da disputa eleitoral.

Joe Biden advogou que o seu desempenho no debate com Trump não passou de uma "má noite", para a qual contribuíram vários fatores, como uma gripe e cansaço, e procurou afastar a pressão concedendo uma entrevista à televisão ABC e com uma longa conferência de imprensa na quinta-feira.

Mas várias 'gaffes', incluindo ter apresentado o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como "Presidente Putin" em plena cimeira da NATO, têm mantido dúvidas sobre a sua capacidade para mais quatro anos de mandato.

Esses momentos de Biden deverão ser usados durante a Convenção Republicana para intensificar as críticas ao chefe de Estado.

Em oposição, o Comité Nacional Democrata realizará eventos em Milwaukee, prometendo conferências de imprensa diárias e contraprogramação à Convenção Republicana, numa tentativa de alcançar eleitores numa cidade dominada pelos democratas.

Os democratas estão ainda a colocar anúncios em mais de 50 autocarros de Milwaukee que passarão pela Convenção Republicana, num esforço para criticar as políticas do partido e de Trump e enaltecer as conquistas de Joe Biden.

Os anúncios focam-se no direito ao aborto, na redução do custo de medicamentos prescritos conseguida por Biden e na recente condenação criminal de Trump.

Ataque reforça o apoio?

Enquanto aguardavam a chegada de Trump a Milwaukee para o coroar como candidato presidencial, os apoiantes de Donald Trump souberam pela televisão e pelas redes sociais que seu herói sobreviveu a uma tentativa de assassinato com o punho levantado.

Agora apoiam-no com ainda mais força. Cerca de 50 mil pessoas reunir-se-ão esta semana na maior cidade de Wisconsin (norte) para a Convenção Nacional Republicana. Várias ruas à volta estão fechadas e vigiadas.

Enquanto a organização finalizava os detalhes,  palcos e assentos, chegou a notícia de que Trump foi ferido na orelha por um atirador durante um comício na Pensilvânia e foi evacuado com segurança.

"Acabámos de atingir outro nível em termos do nosso apoio a Trump. Falaram sobre um tiro que foi ouvido em todo o mundo. Quem quer que tenha feito isso, seja qual for a fação... agora haverá mais pessoas que apoiam o presidente Trump", diz Michelle Altherr, delegada do Arizona.

O apoio dos seus partidários é cego, independentemente de ter sido condenado pela Justiça e ter vários julgamentos pendentes.

Philip Fredericks, que usa um boné vermelho com o nome de Trump, soube da notícia ao descer do avião. "Liguei o meu telefone e não pude acreditar", disse o republicano de Nova Jérsia.

Numa esquina, Amari McCullum, um habitante do Milwaukee de 23 anos que não tem nada a ver com a convenção, soube do evento enquanto navegava pelas redes sociais no seu telemóvel numa paragem de autocarros perto do centro de convenções.

"É uma loucura que algo assim possa acontecer com o ex-presidente dos Estados Unidos. Eles precisam de mais proteção. Não faz sentido", diz ele.

"Ele virá"

Fredericks acredita em Trump como alguém que acredita no seu messias e não tem dúvidas de que o ex-presidente irá para Wisconsin apesar do que aconteceu.

"Ele não é do tipo que se esconde num canto. Com certeza estará aqui esta semana", acrescenta.

Ele está fascinado pela forma como o septuagenário, que deverá enfrentar o presidente Joe Biden em novembro, ficou com o punho erguido logo após a tentativa de assassinato.

Em Milwaukee está tudo pronto para a Convenção Republicana, que começa hoje.

O nome "Trump" aparece em grandes outdoors iluminados. O pessoal dos serviços secretos assume as suas posições. Os hotéis estão cheios de visitantes.

Protegido por anjos

"Graças a Deus há anjos a proteger este homem, porque ele será presidente em 2025, será eleito em novembro", considera Altherr.

"Tudo o que posso dizer é que, graças a Deus, houve um vento" que pode ter mudado o tiro, disse Dave Simone, outro apoiante de Trump.

Do lado político oposto, Andzu viajou a Milwaukee para manifestar-se contra Trump.

Diz-se "chocado" com a tentativa de assassinato do candidato e teme que o acontecimento seja usado a seu favor.

"Isso não muda o facto de pessoas estarem a morrer, da América estar em colapso e o planeta a morrer", explica o jovem de 29 anos.

Há também os descrentes, como Terry, professor de 61 anos que também viajou para protestar contra o ex-presidente. "Trump mandou alguém atirar para orelha dele? Possivelmente, não sei", diz ele.

*Com Lusa e AFP