“Temos muito receio dos próximos tempos. Fomos apanhados de surpresa ontem [sábado] com este anúncio. Os feirantes de todo o país, e os do Norte não são exceção, estão numa situação gravíssima. Achamos que existe uma dualidade de critérios para as diferentes áreas do comércio. Não estamos contra que os outros trabalhem. Só queremos que nos deixem trabalhar”, referiu à agência Lusa o presidente da AFMRN, Fernando Sá.
Já em comunicado, a associação, que representa cerca de 8.000 feirantes do Norte, começa por salvaguardar que está “consciente do agravamento da situação epidemiológica” e está “como sempre esteve disponível para enfrentar a luta contra a pandemia”, mas alerta que a suspensão das feiras “será fatal” para o setor.
O Governo determinou no sábado o dever cívico de recolhimento domiciliário em 121 concelhos do país devido a amento de casos relacionados com o novo coronavírus.
Os estabelecimentos de restauração não poderão ter mesas com mais de seis pessoas e o seu horário de fecho passa a ser as 22:30.
O teletrabalho também se torna obrigatório salvo "oposição fundamentada" pelo trabalhador.
Nestes concelhos, ficam proibidas as feiras e os mercados de levante, enquanto os eventos e celebrações ficam limitados a cinco pessoas, exceto nos casos em que os participantes pertençam ao mesmo agregado familiar.
À Lusa, Fernando Sá enumerou os municípios a Norte onde esta medida afetará feirantes, apontando que “de um total de 86 apenas 23 poderão” manter feiras e mercados.
“Estimamos que estas medidas afetem cerca de 80% dos feirantes da região”, afirmou.
A associação alerta que “se os feirantes não trabalham, não têm como gerar rendimentos para as suas mais elementares necessidades, como comer ou pagar as contas da água e da luz”, e que “se os feirantes não podem trabalhar, todos os fornecedores desses feirantes, a montante, deixarão de ter a quem vender e todos ficarão sem rendimento”.
“Serão cerca de 80 mil pequenos e médios empresários a ficar sem fonte de subsistência que lançarão no desemprego dezenas de milhares de operários. Porquê colocar os feirantes numa situação de iminente insolvência? Porquê discriminar os feirantes em relação ao comércio de rua, o tradicional? Porquê discriminar os feirantes em relação aos 'shoppings'? Porque só somos lembrados nas arruadas das campanhas políticas? Porque somos sempre o parente pobre dos vários setores do comércio”, questiona a AFMRN.
A associação recorda que quando o funcionamento das feiras voltou a ser permitido, por todo o país, foram definidos planos de contingência específicos, dando o exemplo de regras como a lotação máxima para cada recinto, as condições para controlo dos acessos, os circuitos para entradas e saídas, bem com os corredores próprios de circulação.
“Foram colocados dispensadores de álcool gel nas entradas e saídas dos espaços e em todas as bancas dos feirantes. O uso da máscara foi sempre obrigatório, tudo sob controle de vigilância e sob a orientação das respetivas delegações de saúde. Ora, decorridos cerca de seis meses após a reabertura e a implementação das regras, não foi detetado ou reportado qualquer caso de contágio ligado a esta atividade, sendo claro que não se pode concluir que esta atividade represente maior risco do que qualquer outra atividade comercial, como os centros comerciais ou as lojas de rua”, refere a AFMRN.
A pandemia de covid-19 já provocou quase 1,2 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.544 em Portugal.
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