A chegada dos novos estudantes do ensino superior é habitualmente marcada pela organização de atividades de praxe, que juntam centenas de alunos para receber os caloiros, mas em plena pandemia, o tema está a preocupar os dirigentes das instituições.

Em declarações à Lusa, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas adiantou que algumas reitorias vão assumir uma posição em relação à praxe, proibindo a realização destas atividades dentro dos ‘campi’.

“Até agora, nós combatíamos a praxe abusiva e sempre defendemos mais a integração dos estudantes do que propriamente a praxe, mas agora os reitores, conforme se vai aproximando o ano letivo, estão a tomar posições”, explicou António Fontaínhas Fernandes.

É o caso da Universidade de Lisboa que, segundo noticiou na segunda-feira o jornal Público, anunciou que a praxe seria proibida durante o ano letivo, estabelecendo que o incumprimento resultará em processo disciplinar.

A medida vai ser seguida por Fontaínhas Fernandes na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde é reitor, e no final da semana será publicado um comunicado a proibir a praxe dentro do ‘campus’.

Os institutos politécnicos não vão tão longe, mas o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) garante que as instituições não vão permitir atividades que envolvam contacto físico e o desrespeito das regras de segurança sanitária.

“Todas as atividades têm de ser enquadradas nos planos de contingência que as instituições têm e qualquer contacto físico, naturalmente, está proibido. E todas as instituições têm códigos disciplinares e no caso de incumprimento dessas mesas regras atuaremos”, explicou Pedro Dominguinhos, acrescentando que acredita que os estudantes serão responsáveis.

No entanto, em muitas universidades e politécnicos as atividades decorrem fora das instituições e aí os reitores e presidentes não têm capacidade para atuar, lamenta o presidente do CRUP.

“Fora do ‘campus’ também nos preocupa, mas aí julgo que tem de existir um maior acompanhamento por parte das autoridades, porque os reitores não têm capacidade de intervenção”, apelou.

Do lado dos alunos, alguns grupos responsáveis por planear e organizar estas atividades não esperaram pela decisão das instituições.

No Porto, por exemplo, o Conselho de Veteranos da Academia do Porto anunciou na semana passada, numa nota publicada na página de Facebook, a decisão de suspender todas as atividades de praxe, considerando a necessidade de “prevenção e proteção da saúde pública.

Também o Grémio Académico da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa comunicou, pela mesma via, que “todos os eventos de praxe presenciais planeados para os próximos tempos” seriam cancelados.

Por outro lado, em Coimbra, o Conselho de Veteranos já no início de agosto admitia que a praxe se mantivesse no início do ano letivo, uma decisão que, segundo disse na altura à Lusa o 'dux veteranorum', Matias Correia, foi tomada "em articulação com a reitoria da Universidade de Coimbra".

No entanto, as atividades vão decorrer com algumas restrições e num decreto publicado na página de Facebook a entidade reguladora da praxe na Universidade de Coimbra define a obrigatoriedade de máscara, a proibição de atividades que juntem mais de dez participantes e que envolvam contacto físico, devendo os estudantes manter uma distância mínima de dois metros.

Também o ministro do Ensino Superior já falou sobre o tema e numa carta aos estudantes e instituições pediu um esforço coletivo numa integração digna dos novos alunos e o cumprimento das regras de mitigação da pandemia de covid-19.

No ensino superior, as aulas arrancam a partir da próxima semana, depois de serem conhecidos os resultados da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso, divulgados dia 28 de setembro.