O dia a dia de uma jovem criança diabética não é fácil. Não é fácil para si, mas também para os pais e para aqueles que as cuidam, nomeadamente em estabelecimentos de ensino.
Estes últimos, por exemplo, são por vezes criticados pelos pais quando se recusam a fazer determinado procedimento necessário à doença. A falta de know-how será a razão.
"Já tive algumas vezes de sair do trabalho para ir buscar o meu filho. Ou a bomba de insulina não trabalhava, ou tinha de mudar-se o local para que a insulina fosse injetada, etc. Alegavam mesmo que não tinham conhecimentos para tratarem a minha filha. Mas acima de tudo era receio de fazer algo incorreto. Diziam 'Ai, não consigo fazer isso', 'é muito complicado e tenho recei0' ", começou por dizer Maria do Carmo, mãe de Alice, uma menina de 5 anos com diabetes tipo 1.
"O Ministério da Saúde ou da Educação deveria prevenir estas situações, cada estabelecimento de ensino deveria ter alguém super preparado para estas crianças, que são como quaisquer outras"
As críticas não são necessariamente direcionadas para auxiliares ou professores, mas sim para o Ministério da Saúde e da Educação.
"Há muitos pais que optam por deixar os filhos diabéticos em casa, tudo devido a estas situações, o medo é muito. E agora com o teletrabalho são cada vez mais as crianças que ficam em casa. Pertenço a uma associação e este é um tema recorrente. A culpa não é dos funcionários, mas sim de quem não lhes proporciona ferramentas para que possam tomar conta dos nossos filhos. O Ministério da Saúde ou da Educação deveria prevenir estas situações, cada estabelecimento de ensino deveria ter alguém super preparado para estas crianças, que são como quaisquer outras", salientou Alice.
A ausência destas crianças de estabelecimentos de ensino não pode, contudo, ser uma regra, dizem os especialistas. Sofia Castro, médica pediatra, da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), diz mesmo que uma boa "gestão" desta doença em ambiente escolar será fundamental para a vida destas crianças.
"Se houver uma integração plena destas crianças, cumprindo as rotinas diárias associadas à gestão da doença, a sua vida decorre com normalidade e este é um aspeto fundamental para o seu bem estar", diz ao SAPO24, confirmando que por vezes surgem queixas de pais sobre as escolas.
"Pontualmente acontece", diz, propondo depois "abordagens" e "procura de consensos" para evitar conflitos. Outra sugestão da profissional passa também pela frequência destes "profissionais de educação" no curso de Escolas da APDP.
"Diria até que estamos mais evoluídos que outros países da UE onde um dos pais tem de deixar de trabalhar para ficar a tomar conta dos seus filhos quando o diagnóstico surge em idade pré-escolar"Sofia Castro, médica pediatra
Quanto à opção dos pais em manterem os seus filhos em casa, a especialista pede para que este tema seja revisto pelos mesmos.
"Em Portugal, há legislação que prevê o apoio as crianças com diabetes na Escola, pelo que na maioria dos casos os pais mantêm a sua atividade profissional e a Escola cumpre o seu papel de cuidar destas crianças com o suporte dos pais, equipa de saúde e Saúde Escolar. O absentismo escolar deve ser evitado a todo o custo. Existem caos pontuais de crianças em ensino doméstico por opção dos pais mas não propriamente devido à diabetes", refere.
Questionada sobre o que acontece lá fora, Sofia Castro até elogia o panorama nacional. "Diria até que estamos mais evoluídos que outros países da UE onde um dos pais tem de deixar de trabalhar para ficar a tomar conta dos seus filhos quando o diagnóstico surge em idade pré-escolar", diz, dando depois conselhos aos pais e aos estabelecimentos de emsino para que este problema não seja tão limitador.
"Sugiro sempre manter uma boa base de diálogo entre os vários elementos responsáveis pelo cuidado à criança/adolescente; cumprir o esquema terapêutico e atuar de acordo com os protocolos nas complicações agudas. A diabetes bem tratada e bem gerida não limita as crianças/adolescentes", conclui.
A mãe Maria do Carmo também afina pelo mesmo diapasão, "de facto quando as coisas são bem tratadas, a vida pode ser quase perfeitamente normal", mas o problema será mesma a preparação dos estabelecimentos para tal.
"Um pai se se sentir seguro, deixa a criança ir para a escola. Eles não querem faltar aos empregos, nem colocar baixa para ficarem com os seus filhos em casa. Apenas sentem que muitas escolas rejeitam as crianças por não estarem preparadas, concretamente os seus funcionários, que se recusam a tomar determinadas medidas por não terem formação para tal. A formação da Associação é apenas um ponto de partida, mas este tema, consideramos, tem de vir mais de cima, do governo e dos ministérios", salienta Maria do Carmo.
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