Apesar de o Ministério da Defesa russo ter reconhecido que o navio foi apenas danificado, todas as provas disponíveis publicamente, incluindo vídeos e fotos do local, apontam para a destruição completa, na manhã de terça-feira, em Feodosia, do navio de 112 metros de comprimento, um dos que ameaçaram a cidade portuária de Odessa, no sudoeste da Ucrânia, logo no início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022.
Segundo os serviços de informações britânicos, que confirmam a “destruição completa” do navio, “é altamente provável que o “Novocherkassk” transportasse carga explosiva quando foi atingido por um míssil Storm Shadow lançado pela aviação ucraniana, causando uma grande explosão secundária”, que atingiu também as instalações portuárias de Feodosia.
Esta informação é corroborada pelo Instituto para os Estudos da Guerra, com sede de Washington, que menciona imagens de satélite para sugerir que “o ataque danificou a infraestrutura portuária circundante”.
Informações divulgadas pelo canal Astra, um serviço noticioso independente russo, indicam que pelo menos 34 marinheiros terão morrido e outros 23 tripulantes terão ficado feridos.
Ironizando com a desvalorização do ataque por parte de Moscovo, o Ministério da Defesa de Kiev publicou nas redes sociais uma mensagem afirmando: “Soldados ucranianos modificaram o grande navio de desembarque russo ‘Novocherkassk’ — agora é um submarino”.
De acordo com o Estado-Maior do exército ucraniano, o “Novocherkassk” tornou-se no 24.º navio destruído no Mar Negro pelas forças ucranianas.
Este número também inclui um submarino, atingido por um ataque de mísseis em Sebastopol em setembro, o cruzador e navio-almirante do Mar Negro “Moskva”, afundado em abril de 2022, e os grandes navios de desembarque “Saratov”, “Olenegorski Gorniak” e “Minsk”.
Segundo Oleksi Danilov, secretário do Conselho de Segurança Nacional, que falou à edição ucraniana da “Voz da América”, as perdas russas ascendem a 20% da sua frota.
“O feito da Ucrânia no Mar Negro é extraordinário”, resume à agência EFE Oleksí Melnik, diretor de programas de segurança externa do Centro Razumkov, com sede em Kiev.
Apesar de não ter “nenhuma frota clássica”, a Ucrânia conseguiu “deslocar a Rússia da parte noroeste do mar”, segundo o especialista.
“A Ucrânia mostrou ao mundo inteiro que a Rússia não é capaz de aplicar o bloqueio [aos portos ucranianos], com o qual chantageou a Ucrânia e muitos outros países necessitados de cereais ucranianos”, sublinha.
Os ‘drones’ de superfície marítima tornaram-se na base das ações proativas da Ucrânia no Mar Negro, de acordo com a análise de Mikola Bielieskov, especialista militar da ONG “Come Back Alive” em Kiev, também citado pela EFE.
Desempenharam um papel fundamental no combate às tentativas russas de intercetar navios que transportavam cereais ucranianos no sudoeste do Mar Negro, fora do alcance dos mísseis antinavio Harpoon, depois de a Rússia se ter retirado unilateralmente do Acordo de Cereais apoiado pela ONU na segunda quinzena de julho, sustentou.
Estes ‘drones’, utilizados pela primeira vez em ataques contra portos controlados pela Rússia em Sebastopol e Novorosisk no outono de 2022, também representam uma ameaça permanente, apesar da sua autonomia e das limitações de alcance, aos navios russos fora dos pontos de implantação.
O ‘drone’ Mamai, utilizado pelo Serviço de Segurança Ucraniano, é atualmente o veículo mais rápido do Mar Negro, capaz de se deslocar a 110 quilómetros por hora.
Outro tipo de drone, o Sea Baby, carrega pelo menos 850 quilos de explosivos e também tem sido usado em ataques contra diversas bases navais russas.
A estratégia assimétrica de “defesa pela negação” contra a superior marinha russa permitiu à Ucrânia continuar a exportar cereais a partir dos portos que ainda controla na região de Odessa.
Além disso, é agora capaz de exportar metais e outros itens que não foram abrangidos pela Iniciativa de Cereais do Mar Negro, apoiada pela ONU.
Mais de 300 navios transportaram cerca de 10 milhões de toneladas de mercadorias através do “corredor humanitário” da Ucrânia nos primeiros quatro meses de operação, “apesar dos ataques sistemáticos russos” contra os portos no sul do país, segundo o Ministério das Infraestruturas do país.
Isto constitui um alívio bem-vindo tanto para os compradores estrangeiros como para os produtores e exportadores ucranianos, afetados pela ocupação russa, pelos bombardeamentos e pelo bloqueio de portos importantes.
No entanto, o confronto no Mar Negro está longe de estar resolvido, alerta Bielieskov. A Ucrânia está atualmente limitada nos meios à sua disposição para atacar a concentração de forças russas na Crimeia ocupada, que a Rússia utiliza para projetar na região.
A Rússia também está a tentar limitar a eficácia dos ‘drones’, por exemplo, trabalhando na guerra radioeletrónica para interromper a direção destes aparelhos.
“Só a libertação completa da Crimeia pode garantir a liberdade de navegação e a segurança no Mar Negro”, sublinha Bielieskov.
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