"Foi-se constatando no terreno mais de cinco mil casos de mulheres padecendo do cancro do útero, o que nos levou a iniciar a campanha de vacinação HPV", disse hoje aos jornalistas o médico Deodato Xavier, num seminário em que representou o ministério da Saúde são-tomense.
"Nós aqui, em São Tomé, deparamo-nos com uma realidade clínica que era mulheres jovens com idade fértil a morrerem de cancro de colo de útero, mas não sabemos neste momento ainda quantificar porque não há registos", disse, por seu lado, Lucília Gonçalves, médica portuguesa do hospital Amadora Sintra, integrada no Projeto Saúde para Todos.
"É difícil saber que passamos de 1.000 para 100 ou de 100 para 10, mas a verdade é que da avaliação de cariz epidemiológico que realizamos no primeiro semestre de 2011, em que analisamos 5.000 amostras, verificámos que, de facto, a incidência de infeções virais por HPV e lesões pré-malignas e malignas do colo do útero era de facto elevada", explicou.
Segundo a responsável, foi por isso que se "delineou uma estratégia juntamente com as estruturas dirigentes locais" no sentido da Organização Mundial de Saúde (OMS) "olhar para esta realidade clínica de São Tomé tão intensa e tão grave" e ponderar a introdução da vacina contra o cancro do colo do útero.
Em 2017, o Ministério da Saúde de São Tomé e Príncipe, com o apoio da OMS, iniciou a aplicação, particularmente nas escolas, da vacina contra o cancro no colo do útero (HPV) nas crianças com idade entre nove e 11 anos.
Uma equipa de médicos portugueses está em São Tomé, no âmbito do Programa Saúde para Todos, a preparar as condições para a aplicação da segunda fase desta vacina, que deverá arrancar entre novembro e dezembro, depois de especialistas da OMS concluírem a avaliação da primeira fase da campanha de vacinação, que teve uma taxa de cobertura plena.
Enquanto isso não acontece, decorrem no terreno atividades de campanhas de sensibilização nas escolas e nas comunidades, bem como consultas nos centros de saúde especializados.
Hoje mesmo foi realizada uma cirurgia considerada "inovadora" pelos médicos portugueses.
"Foi uma histerectomia radical para tratar o cancro do colo do útero que apareceu ontem na consulta, já havia um exame prévio que tinha sido enviado para o hospital Fernando Fonseca, em Lisboa, o resultado chegou em menos de uma semana e a equipa cirúrgica de ginecologia fez a intervenção", explicou Lucília Gonçalves.
A equipa portuguesa é composta por três ginecologistas e um especialista em anatomia patológica, e vão permanecer na capital são-tomense por mais uma semana.
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