O Congresso espanhol consentiu esta quinta-feira o decreto aprovado pelo governo a 24 de agosto e que dá cobertura legal à exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco do Vale dos Caídos — memorial e basílica mandados construir por si, onde estão também enterrados mais de 33 mil combatentes da Guerra Civil.
Escreve o El País que, durante o debate, todos os grupos parlamentares concordaram que o enterro do ditador na área de Cuelgamuros (em Madrid) é uma "anomalia histórica". No entanto, não houve unanimidade na votação, existindo dois votos contra vindos do ex-presidente do Congresso Jesus Posada e do deputado José Ignacio Llorens, que admitiram depois ter sido um erro.
PP, Ciudadanos, Unión del Pueblo Navarro y Foro Asturias abstiveram-se, totalizando 165 votos (tirando os enganos). PSOE, Unidos Podemos, PNV, ERC, PDeCAT, Compromís, EH Bildu, Coalición Canaria e Nueva Canarias votaram favoravelmente, contabilizando 176 "sins".
O desacordo verificado na votação foi justificado pelo Ciudadanos e pelo PP que consideraram não haver urgência em retirar os restos mortais do ditador. O número dois do Ciudadanos, José Manuel Villegas referiu que esta ação não é uma prioridade mas sim uma necessidade de Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol, de "tapar a sua incapacidade e as suas vergonhas".
Antes da votação, Adriana Lastra tinha pedido para que não se esquecem da democracia: "Não se abstenham da democracia e da dignidade, imploro-vos". A porta-voz socialista disse ainda que o Ciudadanos e o PP estão "a competir pelos votos da extrema-direita, e não vale a pena, não há muitos." Em relação à medida de mudança dos restos mortais de Franco, acrescenta que a decisão não vai dividir a sociedade espanhola e que é "uma vergonha que defendam ter um golpista, um genocida, na zona periférica de Madrid. Isso seria impensável em Berlim".
Também a vice presidente do Governo, Carmen Alvo defendeu que não há justiça enquanto os restos mortais de Franco estiverem junto aos das vítimas da Guerra Civil: "Não há justiça nem concórdia enquanto os restos de Franco estiverem no mesmo lugar que as vítimas".
A discussão sobre a exumação dos restos mortais de Franco foi o primeiro passo de um projeto que pretende, adiante, tomar decisões sobre o que fazer com os restos mortais dos republicanos que ainda se encontram em valas em diferentes partes de Espanha.
O decreto real acrescenta um parágrafo ao artigo 16 da Lei da Memória Histórica, que explica a urgência da decisão e pede a exumação. O Governo justificou a urgência com base no pronunciamento do Congresso dos Deputados de maio de 2017, sem nenhum voto contra, a favor da exumação e que seguiu adiante como uma proposta apresentada pelo PSOE durante o governo de Mariano Rajoy.
Esta votação recebeu longos aplausos da esquerda e dos nacionalistas, bem como do público que assistia à votação.
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