
Apesar dos recentes confrontos com Volodomyr Zelensky, o presidente americano reforçou o pedido a Putin para terminar com o sofrimento dos civis e soldados ucranianos.
Em cima da mesa está a negociação de um acordo de cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia, acordado esta terça-feira entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, e sobre o qual o Kremlin ainda não se pronunciou. Uma segunda conversa entre Trump e Putin para discutir o acordo está agendada para hoje, mas ainda sem hora definida.
A proposta de tréguas articulada pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, surpreendeu a comunidade internacional, que se mantém alerta com a reaproximação de Donald Trump à Rússia desde que regressou ao poder.
Steve Witkoff, enviado especial de Donald Trump, chegou a Moscovo na quinta-feira para apresentar aos russos o plano dos EUA e convencê-los a terminar a guerra que começaram.
"Atualmente, milhares de soldados ucranianos estão completamente cercados pelo Exército russo, estão numa posição vulnerável e muito má. Pedi a Vladimir Putin que lhes poupasse a vida", escreveu Trump numa mensagem na rede Social Truth.
O Presidente norte-americano referiu ainda "discussões muito boas e produtivas com o Presidente Putin ontem [quinta-feira]", sem especificar se os dois chefes de Estado falaram diretamente por telefone ou através de emissários.
"Há uma boa hipótese de que esta guerra terrível e sangrenta finalmente termine", acrescentou Donald Trump. No entanto, o Kremlin não parece concordar.
Estará o Kremlin do lado dos EUA?
Apesar de a conversa de ontem ter sido, nas palavras de Trump, "produtiva", um relatório confidencial preparado para o Kremlin publicado há dois dias pelo Washington Post, sugere que a Rússia não tem interesse numa paz antecipada.
O relatório foi elaborado por um grupo de reflexão sediado em Moscovo, que retrata o plano de Donald Trump para resolver o conflito na Ucrânia em 100 dias como "impossível" e refere ainda que Trump "não parece compreender" a complexidade da situação.
Além disso, o Exército russo reivindicou hoje a recuperação da cidade de Goncharovka, na região russa de Kursk - o mais recente exemplo dos rápidos avanços de Moscovo na zona, que está ocupada pelas forças ucranianas desde o verão de 2024.
Assim, Putin passou a exigir a rendição total de Kiev em Kursk, a oeste do país, e avança para o controlo de Sudzha, uma cidade importante na região.
Em reposta, o presidente Volodymyr Zelensky disse esta sexta-feira que as tentativas russas de estabelecer condições para um cessar-fogo na Ucrânia apenas "complicam e prolongam o processo", avança a Reuters.
Na rede social "X", o presidente ucraniano escreveu que "a Rússia é a única parte que quer que a guerra continue e que a diplomacia fracasse".
As reações da comunidade internacional
A intensa pressão que o presidente americano exerceu sobre a Ucrânia, invadida por Moscovo em 2022, voltou a promover uma onda de solidariedade dentro da comunidade internacional.
A Organização das Nações Unidas acredita que a Rússia 'cometeu crimes contra a humanidade', como desaparecimentos forçados e atos de tortura, desde o início da guerra.
Uma comissão internacional de inquérito independente da ONU referiu ainda que esses crimes foram cometidos como parte de "um ataque sistemático e generalizado contra a população civil", e apelou pela paz.
Também os países do G7 — Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e os Estados Unidos — anunciaram esta sexta-feira o apoio à proposta de cessar-fogo para o conflito na Ucrânia e à integridade territorial do país, ao mesmo tempo que exigiram medidas de segurança para Kiev e ameaçaram Moscovo com novas sanções, nomeadamente económicas.
A declaração final da reunião dos chefes de diplomacias do G7, em Charlevoix, no Canadá, reafirma o seu "apoio inabalável" à integridade territorial da Ucrânia e ameaça a Rússia com novas sanções se não apoiar a proposta norte-americana de trégua, já aceite por Kiev.
O grupo apela também para a implementação de "acordos de segurança robustos" para evitar uma nova "agressão" russa na Ucrânia.
O G7 demonstrou "forte unidade" nas discussões sobre a Ucrânia, disse Mélanie Joly, ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, anfitriã da reunião, que já indicara estar em redação uma forte declaração final.
"Apoiamos a proposta americana de cessar-fogo, aceite pelos ucranianos, e continuamos a aguardar a reação russa", acrescentou, no último dia de discussões.
"No que diz respeito à Ucrânia, a bola está com a Rússia", acrescentou.
Na semana anterior, também a União Europeia se mostrou "do lado dos soldados ucranianos". António Costa, presidente do Consleho Europeu, lembrou: "Estamos contigo, Volodomyr, e vamos continuar no futuro".
A par disso, a União Europeia (UE) continua empenhada em garantir que a Ucrânia se "torne num membro da UE" e atingir a "paz justa e duradoura", refere Úrsula Von der Leyen.
Paulo Rangel "cauteloso" com a posição da Rússia
Em visita a Kiev, capital da Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse hoje que “obviamente Portugal vem reafirmar, num momento fundamental, que estamos aqui para apoiar esta disponibilidade que o governo da Ucrânia têm mostrado para encontrar uma solução para este conflito que foi motivado pela agressão russa”.
"Os países europeus amigos da Ucrânia vão ser chamados a dar garantias de segurança e contribuir para a reconstrução da Ucrânia”, acrescenta. E, aí, “Portugal estará sempre, obviamente, disponível nesse apoio militar, financeiro e político”.
Na sua opinião, “Portugal tem relações muito estreitas com todos os cantos do planeta e tem capacidade – com soft power, o poder suave – de influenciar” estas matérias.
Em relação à posição da Rússia neste acordo, Paulo Rangel está “extremamente cauteloso”, principalmente após declarações do Presidente russo, Vladimir Putin.
“Estou extremamente cauteloso, não estou nada seguro de que a Federação Russa vá aceitar o cessar-fogo“, disse Paulo Rangel, em declarações aos jornalistas, em Kiev.
O ministro dos Negócios Estrangeiros insistiu que “não há qualquer certeza sobre o avanço deste acordo”, mas advertiu que Washington — que está a fazer a mediação deste acordo — “fez saber que o compromisso que está em cima da mesa é claramente aceitável para as duas partes”.
Sobre a declaração feita na quinta-feira pelo Presidente russo, Paulo Rangel considera que “a proclamação inicial parecia ser encorajador", mas o detalhe das exigências feitas por Vladimir Putin não deixou margem para celebrar um acordo de cessar-fogo.
*Com Agências
Comentários