"Fizemos muito, mas temos de ser honestos: não conseguimos resolver o problema dramático que enfrentamos. Infelizmente, apesar da generosidade dos donativos, o financiamento não tem acompanhado as necessidades avassaladoras e 1,8 mil milhões de dólares são necessários urgentemente, e esse número deve aumentar até ao final do ano", disse o secretário-geral.
António Guterres falava num evento de alto nível dedicado ao combate à fome e prevenção que acontece à margem da Assembleia-Geral da ONU, que decorre em Nova Iorque, Estados Unidos da América.
O diplomata lembrou que há sete meses lançou uma "Chamada de Ação" a pedir 4,9 mil milhões de dólares para evitar a fome no Sudão do Sul, Somália, Nigéria e Iémen.
A ONU já angariou 60 por cento desse valor, o que permitiu às agências humanitárias e os seus parceiros ajudar perto de 30 milhões de pessoas.
Guterres adiantou que estes esforços têm permitido evitar o cenário de fome, mas lembrou que fome é um termo técnico.
"Evitar a fome não significa que evitamos o sofrimento. Milhões e milhões de pessoas estão a sofrer, milhões e milhões não têm comida segura e temos pessoas neste momento a morrer", explanou.
Mais de metade da população do Sudão do Sul, cerca de seis milhões de pessoas, enfrenta uma situação de insegurança alimentar severa. O mesmo acontece com 5,2 milhões de pessoas na Nigéria, onde se calcula que uma em cada cinco das 450 mil crianças que enfrentam malnutrição morra sem tratamento especializado este ano.
Na Somália, 3,1 milhões de pessoas não cumprem as suas necessidades alimentares diárias e no Iémen encontra-se a pior situação de todas, com 17 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar severa e 6,8 milhões à beira da fome.
"Temos de fazer melhor e não temos tempo a perder", declarou Guterres, lembrando que parte dos fundos será dedicado a evitar o grande causador das crises humanitárias, como os conflitos.
"Todas estas crises resultaram de conflitos prolongados, da incapacidade de fazer cumprir as leis internacionais humanitárias e de direitos humanos e da falta de acesso seguro e sustentável às pessoas em necessidade para a ajuda humanitária", explicou o antigo perimeiro-ministro português.
Guterres lembrou ainda alguns números, como o dos 18 trabalhadores humanitários mortos no Sudão do Sul este ano ou o 1,9 milhões de pessoas que estão inacessíveis na Somália, por viverem numa zona controlada pelo grupo Al Shabaab,
"A ajuda humanitária está a salvar vidas, mas uma solução a longo-prazo depende da prevenção de conflitos", concluiu António Guterres.
Em agosto, em entrevista à agência Lusa, o diretor do Programa Alimentar Mundial disse que o mundo enfrenta hoje a maior crise humanitária em 70 anos, com mais de 20 milhões de pessoas no Iémen, Somália, Sudão do Sul e Nigéria em risco de fome.
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