Em julho de 1976 um grupo de ladrões conseguiu levar 46 milhões de francos, cerca de 32 milhões de euros, de uma agência do banco Société Générale, cavando um túnel para aceder aos cofres a partir da rede de esgotos da cidade. Os ladrões até se deram ao luxo — ou à provocação — de deixar uma nota para a polícia, escrita no cofre, que dizia: “Sem armas, Sem ódio, Sem violência”.
O dinheiro nunca foi recuperado e o único membro julgado até à data, do apelidado “Gangue dos Esgotos”, foi Albert Spaggiari, antigo militar e fotógrafo, que conseguiu escapar, em 1977, à lei — e à polícia — ao saltar da janela do gabinete do juiz de instrução pouco depois da sua prisão. A polícia perseguiu-o durante 12 anos, até à sua morte (por cancro, aos 57 anos, em 1989).
A imprensa francesa batizou o caso de o “roubo do século” e até o cinema imortalizou a façanha (em "The Easy Way"). Agora, quatro décadas depois, outro suspeito do grupo, é presente a tribunal para responder pelo roubo.
Cassandri, de 74 anos, não é desconhecido das autoridades. Com ligações à máfia de Marselha, já foi acusado por crimes de tráfico de droga, extorsão ou proxenetismo agravado. Neste caso, o maior crime pode ser a sua a petulância.
Em 2010 foi publicado o livro "The Truth about the Nice" (“A verdade sobre Nice”), em que sob o pseudónimo de “Amigo”, um homem afirmava ser o verdadeiro cérebro do famoso assalto de 1976. Os detalhes minuciosos e inéditos levaram a polícia a levar a obra muito a sério. Cassandri foi identificado como sendo o autor, tendo uma cópia do manuscrito sido encontrado no disco rígido do seu computador pessoal.
No livro, de acordo com o "Le Monde", Cassandri também atribui a si mesmo a paternidade da famosa frase inscrita cofre.
Porque é que se auto-incriminaria Cassandri por um assalto que não lhe era atribuído? O crime já havia prescrito e terá sentido, por fim, seguro, para contar a façanha, de acordo com o que os seus filhos contaram à polícia. Crime do qual já se gabava no seio familiar.
Cassandri cometeu um erro, não teve em conta que apesar de ser imputável do roubo, havia outras formas de pagar por ele. Em França, os delitos de branqueamento de capital não têm data de caducidade. Esse “pequeno” detalhe foi suficiente para levar o “cérebro do assalto do século” finalmente à justiça.
De acordo com o jornal “Nice Matin”, o homem acabou por reconhecer a sua participação no assalto, mas assegura que só recebeu uma pequena parte do saque, cerca de dois milhões de francos. Justificação que não terá convencido o juiz, uma vez que Cassandri, que nunca trabalhou, detém um considerável património, explorado pela família, do qual fazem parte inúmeras empresas e imóveis.
"Este livro é um romance, e um romance não serve como evidência", diz o advogado do arguido, Frédéric Monnere, citado pelo "Le Figaro".
Jacques Peyrat, o ex-advogado do primeiro acusado, Spaggiari, considera possível que Cassandri pertencesse ao grupo, mas duvida muito de que tenha sido o cérebro, acrescentado que este se está a aproveitar da fama do primeiro.
O julgamento começou esta segunda-feira, 12 de fevereiro, no Tribunal Penal de Marselha e decorre até esta sexta-feira, 16 de fevereiro. Se Cassandri for considerado culpado, enfrentará uma pena de até dez anos de prisão.
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