Segundo Lavrov, os paramilitares da Wagner, classificados pelos países ocidentais como mercenários, foram para África “a pedido dos governos africanos para ajudar a normalizar a situação na região face à ameaça terrorista”.
O chefe da diplomacia russa citou a este respeito a República Centro-Africana (RCA), país considerado o laboratório da Wagner no continente africano, antes de intervir noutros países, como o Mali e o Burkina Faso.
Este grupo paramilitar fundado em 2014, com ações denunciadas e considerado pelos Estados Unidos da América (EUA) como uma organização terrorista internacional, consolidou-se como um dos principais protagonistas do conflito na Ucrânia e os seus mercenários também foram avistados na Síria e na Líbia.
Os EUA, que há vários anos tentam contrariar a influência russa em África, acusam o grupo Wagner de “cometer violações dos direitos humanos e extorquir os recursos naturais” dos países africanos onde está presente.
Em 2020, Washington impôs sanções à M-Invest, a empresa russa acusada de servir de “cobertura” para as atividades dos mercenários da Wagner no Sudão.
Segundo o Tesouro norte-americano, a empresa obteve em 2017, sob o regime do ditador Omar al-Bashir, “contratos de concessão para explorar os recursos auríferos” do Sudão.
O Sudão, por sua vez, nega a presença do grupo de segurança russo no seu território.
A visita de 48 horas de Lavrov ao Sudão, etapa final da viagem a África, depois de Angola, Mali e Mauritânia, faz parte do esforço de Moscovo para reforçar a sua influência no continente, à medida que o Ocidente procura isolar o país em consequência da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
A visita ao Sudão começou quarta-feira à noite e hoje reuniu-se com o general Abddel Fattah el-Burhan, líder de facto do país, e com o vice-general Mohammed Hamdan Daglo, chefe das temidas paramilitares Forças de Apoio Rápido, e o ministro interino dos Negócios Estrangeiros, Ali al-Sadiq.
No final desta reunião, Lavrov declarou à imprensa que a Rússia apoia os esforços do Sudão, país mergulhado numa profunda crise económica e política, para pôr fim às sanções que lhe foram impostas pelas Nações Unidas.
O Sudão está sujeito a uma série de sanções e um embargo de armas, imposto em 2005 pela ONU durante o sangrento conflito em Darfur, no oeste do país.
A economia deste país da África Oriental, um dos mais pobres do mundo, foi prejudicada por anos de sanções económicas dos EUA durante o regime de Al-Bashir.
A transição democrática pós-Al-Bashir suscitou a abertura do Ocidente: em 2020, Washington retirou o Sudão da sua lista de países que apoiam o terrorismo e a ajuda internacional voltou, mas o golpe liderado em 25 de outubro de 2021 pelo chefe do exército, general Abddel Fattah el-Burhan, interrompeu a transição e a concessão desta ajuda só será retomada se os civis voltarem ao poder, alertam os doadores.
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