“É uma honra para mim acordar com a notícia de que o Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov 2024 ao movimento democrático venezuelano”, escreveu num comunicado publicado nas redes sociais María Corina Machado, de 57 anos, que foi impedida de se candidatar às eleições presidenciais de julho, tendo sido declarada inelegível.
“Este reconhecimento é para cada preso político, requerente de asilo, exilado, para cada cidadão do nosso país que luta por aquilo em que acredita”, sublinhou.
María Corina Machado foi escolhida, em primárias, como candidata presidencial da oposição venezuelana pela Plataforma Unitária em 2023, mas acabou por ser desqualificada pelo Conselho Nacional Eleitoral e vive agora na clandestinidade no seu país.
Também Edmundo González Urrutia, que acabou por ser o candidato presidencial da oposição venezuelana, agradeceu hoje à Europa a sua “profunda solidariedade” com o povo venezuelano ao saber-se distinguido com aquele que é o mais importante prémio de direitos humanos da União Europeia (UE).
“Este prémio representa, acima de tudo, a profunda solidariedade dos povos da Europa para com o povo venezuelano e a sua luta para recuperar a democracia”, afirmou o opositor político ao Presidente em exercício, Nicolás Maduro, numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).
“A luta ainda não terminou”, prosseguiu Edmundo González, de 75 anos e que está exilado em Espanha desde 08 de setembro, manifestando também a “gratidão, orgulho e admiração” que sente pelos seus compatriotas que, “com o maior civismo, coragem e determinação, enfrentaram durante anos e continuam a enfrentar um regime que viola sistematicamente os direitos humanos”.
“Os meus compatriotas foram os protagonistas da grande manifestação democrática que teve lugar a 28 de julho”, referindo-se às eleições presidenciais na Venezuela.
“Apesar de milhões de pessoas terem sido impedidas de votar, as que o fizeram conseguiram ultrapassar todo o tipo de obstáculos”, disse Edmundo González, acrescentando: “Não só conseguimos derrotar a ditadura nas urnas, como também conseguimos provar esta estrondosa vitória eleitoral”.
Antigo embaixador da Venezuela em Buenos Aires, Edmundo González referia-se à sua vitória nas presidenciais como candidato da Plataforma Unitária, segundo a oposição, com mais de 67% dos votos, ao passo que Nicolás Maduro foi declarado vencedor com 52% dos votos.
Os dois opositores e vários observadores denunciaram a ocultação dos resultados oficiais por parte do regime venezuelano e contestaram a vitória atribuída ao Presidente em exercício, Nicolás Maduro.
Nas ruas da Venezuela, manifestações espontâneas fizeram pelo menos 27 mortos e cerca de 200 feridos. E cerca de 2.400 pessoas foram detidas, segundo fonte oficial.
Os resultados oficiais não foram reconhecidos pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por vários países latino-americanos, que exigiram, em vão, que o Governo venezuelano apresentasse as atas das assembleias de voto para que pudessem ser verificadas.
Edmundo González temia pela vida e fugiu da Venezuela a 08 de setembro, após um mês na clandestinidade, acabando por se refugiar em Espanha com a mulher.
O opositor foi alvo de um mandado de captura, após o Ministério Público venezuelano ter aberto um processo pelos crimes de “desobediência à lei”, “conspiração”, “usurpação de funções” e “sabotagem”.
A escolha dos dois opositores ao regime venezuelano como vencedores do Prémio Sakharov 2024 foi feita pelas delegações portuguesa e espanhola do Partido Popular Europeu (PPE, direita, principal força política no hemiciclo comunitário) e depois incluída como proposta do grupo político.
Os seus nomes receberam igualmente o apoio do grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), no qual têm assento os eurodeputados do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
O Prémio Sakharov, no valor de 50.000 euros, tem o nome do dissidente soviético e físico nuclear Andrei Sakharov, galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1975.
A cerimónia de entrega do prémio realizar-se-á no dia 18 de dezembro, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
A 30 de setembro, a María Corina Machado foi distinguida pelo Conselho da Europa com o Prémio Vaclav Havel para os Direitos Humanos.
A primeira latino-americana a receber este galardão, Machado reagiu afirmando, por videoconferência, que “a ditadura” no seu país caminha para a sua “inevitável queda”.
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