“Briguei muito com companheiros social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você [Nicolás Maduro] era Presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo”, disse Lula da Silva numa conferência de imprensa na sede do Governo brasileiro ao lado de Maduro.
“Eu disse aos europeus que não entendia que um continente que exercia a democracia tão plenamente como a Europa pudesse apoiar a ideia de que o impostor [Juan Guaidó] era o Presidente [da Venezuela]”, acrescentou.
O encontro entre os chefes de Estado do Brasil e da Venezuela ocorre depois de oito anos de relações abaladas devido a mudanças políticas no Brasil e também pelo isolamento global imposto por muitos países, incluindo os membros da União Europeia, à Venezuela na tentativa de pressionar o regime populista de Maduro a reverter o cerco às instituições e à democracia que consideram que este promove naquele país.
O Presidente brasileiro considerou ser “inexplicável um país [Venezuela] ter 900 sanções porque outro país [Estados Unidos] não gosta dele”.
“Acho que está nas suas mãos, companheiro, construir a sua narrativa e virar esse jogo para a Venezuela voltar a ser um povo soberano, onde somente o seu povo, através de votação livre, diga quem vai governar o país. É só isso que precisa ser dito. E nossos adversários vão ter que pedir desculpas pelo estrago que ele fizeram na Venezuela”, disse o líder brasileiro, dirigindo-se a Maduro.
O chefe de Estado brasileiro também defendeu uma integração plena entre Brasil e Venezuela e, questionado sobre a retoma da interligação elétrica entre os dois países, suspensa há mais de quatro anos, afirmou querer “recuperar a relação energética com a Venezuela” e as linhas de transmissão que levavam eletricidade da barragem venezuelana de Guri ao estado brasileiro de Roraima, no norte do país.
“Roraima é o único estado fora do sistema eletrónico nacional”, e devido às decisões políticas que em 2019 suspenderam as relações com a Venezuela, funciona à base de termoelétricas, “que são bem mais caras”, declarou Lula da Silva.
Já Maduro garantiu que a Venezuela “está preparada para recuperar esta cooperação elétrica” e que pode começar imediatamente a enviar cerca de “190 megawatts”, embora tenha esclarecido que seria necessário um “investimento básico de quatro ou cinco milhões de dólares para recuperar as linhas de transmissão”.
Maduro participará nesta terça-feira numa cimeira sul-americana em Brasília, convocada por Lula da Silva para tentar relançar a cooperação e a integração entre os doze países da região.
O Presidente venezuelano disse ter tido uma proveitosa conversa com Lula da Silva e a sua equipa, argumentou que houve a aplicação de um modelo ideológico extremista contra a Venezuela que fechou todas as portas e janelas de seu Governo com o Brasil, e acusou outros países de tentarem impor um regime naquele país, sem identificar nenhuma nação diretamente.
Maduro defendeu que há democracia na Venezuela embora o seu regime seja reiteradamente acusado de impedir a vitória de adversários em eleições que realiza periodicamente.
Antes do encontro entre Lula e Maduro, o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro publicou um vídeo da sua visita à Casa Branca, onde acertou com o então Presidente, Donald Trump, uma série de políticas de combate à “ditadura” venezuelana.
Bolsonaro explicou no vídeo como, com financiamento dos Estados Unidos, foi construído um centro de acolhimento em Roraima para atender os venezuelanos que saem da Venezuela à procura de melhores condições de vida.
Os líderes da América do Sul reúnem-se na capital do Brasil na terça-feira como parte da tentativa de Lula da Silva de revigorar os esforços de integração regional que anteriormente fracassaram, face às oscilações e polarização política do continente.
Analistas dizem que o Presidente brasileiro sente uma oportunidade de integração por causa das afinidades políticas dos atuais governos da região e parece querer testar a disposição dos líderes de cooperar através de uma reativada União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
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