António Costa falava no final da cerimónia de lançamento do concurso para a construção do primeiro troço da Linha de Alta Velocidade (LAV) entre Lisboa e Porto, que decorreu na sede das Infraestruturas de Portugal, no Pragal, em Almada, distrito de Setúbal.
“Mais do que poder lançar grandes obras era necessário repor o tema da ferrovia no centro dos acontecimentos”, explicou.
Na sua intervenção, mais longa do que o habitual, Costa elogiou o sinal de maturidade democrática dado pelo parlamento ao aprovar na passada quarta-feira, apenas com a abstenção do Chega, este concurso para o avanço da ferrovia de alta velocidade, o que permitirá a Portugal, até ao final deste mês, candidatar-se a fundos europeus na ordem dos 729 milhões de euros.
Na parte final do seu discurso, o primeiro-ministro também contou um episódio que se desconhecia da sua longa carreira política. Disse que em 1995, na formação do Governo de António Guterres, quis ser secretário de Estado dos Transportes, mas acabou como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.
“Por linhas muito tortas”, em consequência da Operação Influencer e da demissão de João Galamba das funções de ministro das Infraestruturas em novembro passado, acabou agora, com o seu executivo em gestão, a tutelar a pasta das Infraestruturas.
Em relação ao atual líder do PS, Pedro Nuno Santos, o primeiro-ministro defendeu que, “de facto, foi o grande impulsionador da construção do Plano Ferroviário Nacional e da visão da ferrovia como potencial grande cluster da economia nacional”.
“João Galamba prosseguiu esse trabalho e conduziu-o até ao dia em que eu, com muita honra e humildade, assumi estas funções de ministro das Infraestruturas – um sonho que tive modestamente em 1995 para ser só secretário de Estado. Mas alguém deve escrever direito por linhas tortas — muitas tortas, tenho de reconhecer e a verdade é que, não tendo conseguido ser secretário de Estado dos Transportes em 1995, lá acabei por ser ministro das Infraestruturas”, referiu, provocando risos na plateia.
Em relação a Pedro Marques, antecessor de Pedro Nuno Santos nas Infraestruturas, António Costa advogou que o atual eurodeputado do PS exerceu as funções nessa pasta, entre 2015 e 2019, “no momento mais difícil, em que mais do que falar era necessário estar em silêncio”.
Tendo a ouvi-lo os ministros das Finanças, Fernando Medina, e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o líder do executivo protagonizou outro momento de humor na cerimónia quando se preparava para carregar, simbolicamente, na tecla do browser “submeter”, abrindo formalmente o concurso para o lançamento da construção da primeira linha nacional de TGV.
“Se alguém tem alguma coisa a dizer que o diga agora”, declarou, provocando algumas gargalhadas na assistência.
No seu discurso, António Costa procurou realçar “o longo caminho” político percorrido até se chegar ao consenso para o lançamento do concurso, dizendo que o seu Governo, que se encontra em gestão, tem assim “plena legitimidade” para avançar com este processo.
Esse consenso político alcançado na passada quarta-feira, de acordo com António Costa, é “um sinal inequívoco de maturidade democrática”, porque foi alcançado num momento em que a Assembleia da República está prestes a ser dissolvida e antes de eleições legislativas antecipadas.
Fez, depois, uma referência aos atrasos verificados no processo do TGV em Portugal, sustentando a tese de que, em Portugal, “muitas vezes é preciso parar, ficar em silêncio, para descontaminar o debate político e se chegar depois ao consenso pretendido”.
“O silêncio revelou-se produtivo”, concluiu.
Ainda segundo António Costa, a resolução aprovada pela Assembleia da República vai ainda mais longe do que legitimar que o Governo português avance na construção do primeiro troço de alta velocidade da futura linha entre o Porto e Lisboa.
“A resolução recomenda ao futuro Governo que lance os próximos concursos de alta velocidade ferroviária a tempo e horas”, acrescentou.
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