“Todos estão a tentar proteger-se a si próprios. O que acontece com os outros não é da sua conta, o que contrasta com o que pessoas como o Mandela faria, que mobilizava todos para a luta”, disse Muhammad Yunus em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional Nelson Mandela, que se assinala hoje.
No dia de aniversário do líder sul-africano, que faleceu em 2013, a Academia de Líderes Ubuntu promove o Mandela Bridges World E-Summit, um evento que decorrerá online devido às condicionantes impostas pela covid-19 e que irá contar com a participação de Muhammad Yunus e mais dois laureados com o Nobel da Paz - Ramos Horta e Kaylash Satyarthi.
Yunus sublinhou a importância da lição de Nelson Mandela, que, comentou, “fez coisas impopulares e que ninguém esperava”, mas que chamava todos – brancos e negros – para a luta.
“Infelizmente, hoje estamos mais divididos. Já não somos mais uma comunidade global e o coronavírus tornou isso claro. É um inimigo comum, que ataca todo o mundo, mas não temos uma frente comum para fazer face à pandemia”, referiu.
E recordou que nesta guerra uns “optaram por atacar a Organização Mundial de Saúde [OMS], que é precisamente um organismo que deve representar todo o mundo numa pandemia como esta”, numa referência aos Estados Unidos da América, que acabaram com o financiamento da organização.
Divisões que a busca por uma vacina tornou mais óbvias: “Novamente, o que vemos é os líderes, como os Estados Unidos e outros países na Europa, a tentarem garantir o máximo de vacinas”.
Por isso, Muhammad Yunus não acredita que, quando forem descobertos, a vacina ou novos tratamentos estejam disponíveis de igual forma para ricos e pobres.
“Não vejo nenhum sinal disso. O que vejo é os países ricos a tentarem assegurar as vacinas para si. Quando os países pobres – onde há muitas pessoas ricas – precisarem, não vão ter, porque as companhias estão a produzir para os países ricos”.
Por esta razão, o Nobel da Paz defende que, quando a vacina for descoberta, seja classificada como “um bem universal”, disponível para todos da mesma forma e pela qual só pagará quem tiver dinheiro para isso.
Reconhecido mundialmente pelo sistema de microcrédito, que consiste na concessão de pequenos empréstimos a empreendedores demasiado pobres para obterem empréstimos de banco tradicionais, o qual ajudou milhões de pessoas a escapar à pobreza, Muhammad Yunus acredita que este sistema poderá ajudar as populações mais pobres a retomar a sua vida após a pandemia.
Uma situação que não é nova no Bangladesh, afetado frequentemente por outras doenças, como a gripe, que atinge populações que depois precisam de ajuda para retomar a sua economia, por mais pequena que seja.
“No Bangladesh, ainda não tínhamos coronavírus e já tínhamos a gripe. Hoje, temos o coronavírus e também a gripe. Sabemos como ajudar, como permitir que comecem ou recomecem as suas vidas. O microcrédito funciona como um banco para os pobres”, disse.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 590 mil mortos e infetou mais de 13,83 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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