“Depois da tragédia ocorrida na última quinta-feira no Mediterrâneo, acreditamos que é essencial pedir-vos uma reunião urgente. Cada vez que um naufrágio se repete, esperamos que seja o último. Mesmo a tragédia ocorrida nestes últimos dias poderia muito provavelmente ter sido evitada”, referem as organizações na carta aberta.
O documento foi assinado pelas organizações Open Arms, SOS Mediterranée, Alarm Phone, Emergency, Médicos sem Fronteiras, Mediterranea, ResQ-People e Sea Watch.
Na última quinta-feira, cerca de 130 migrantes morreram depois de dois dias à deriva no mar Mediterrâneo e a pedirem ajuda.
As ONG denunciaram que nas mais de 24 horas decorridas entre o primeiro alarme dado pelo Alarm Phone, que recebe mensagens destes migrantes no mar a pedirem ajuda, e a consumação da tragédia, o navio Ocean Viking (da ONG francesa SOS Méditerranée) “ficou à espera de uma intervenção das autoridades marítimas para coordenar as operações”.
“Mas apesar de as autoridades italianas, líbias e maltesas terem sido constantemente informadas, não houve coordenação e nem um único navio de resgate esteve envolvido” no caso, segundo a carta.
O documento explicou que esta é a trágica realidade do Mediterrâneo, onde “desde 2014, mais de 20.000 homens, mulheres e crianças morreram ou desapareceram no mar, confirmando o seu triste recorde como a rota migratória mais mortal do mundo”.
“Nenhum dos acordos e medidas adotados pelos Estados, após o fim da operação do Mare Nostrum, conseguiu reduzir a taxa de mortalidade. Desde então, as ONG têm procurado preencher o vazio deixado pelos Estados, mas na ausência de uma coordenação centralizada, oportuna e coerente de busca e salvamento, tragédias como as da quinta-feira passada são consequências para a consciência coletiva”, acrescentou a carta.
Ao mesmo tempo, as ONG denunciaram no documento que “se tornaram objeto de uma feroz campanha de deslegitimação e criminalização” por parte das autoridades de alguns países.
As organizações recordaram as palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que defendeu que “o salvamento no mar não é facultativo” e acrescentaram que é “uma obrigação específica dos Estados, uma obrigação legal, portanto, além de moral”.
“Como ONG, estamos no mar para preencher uma lacuna, mas estaríamos dispostos a afastar-nos se a Europa instituísse um mecanismo institucional e coordenado de busca e resgate cujo principal objetivo fosse resgatar pessoas no mar”, declararam.
E é por isso que as ONG pedem a Mario Draghi uma reunião para discutir “que iniciativas concretas” o Governo italiano pode tomar, envolvendo a Europa, para “garantir intervenções de resgate coordenadas e oportunas, para que salvar vidas seja mais uma vez uma prioridade” e que tragédias inaceitáveis como os naufrágios ocorridos nos últimos dias nunca mais acontecerão.
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