
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky manteve a sua oposição a um cessar-fogo com a Rússia sem garantias de segurança "sérias", após uma reunião com os aliados em Londres e sob pressão do presidente americano, Donald Trump.
Com uma postura semelhante à de Donald Trump, que disse que Zelensky não está "pronto para a paz", a Rússia, que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, disse esta segunda-feira que Zelensky deveria ser "forçado" a assinar um acordo para encerrar o conflito porque atualmente "não quer a paz".
A tensão de sexta-feira entre Zelensky, Trump e o vice-presidente americano, JD Vance, na Sala Oval da Casa Branca, agravou-se em relação às garantias de segurança exigidas por Kiev para a assinatura de um acordo sobre o acesso dos Estados Unidos aos recursos minerais ucranianos.
Quanto aos aliados europeus de Kiev, o presidente francês Emmanuel Macron mencionou no domingo a ideia de uma primeira trégua de um mês "nos ares, mares e infraestruturas energéticas". No entanto, o governo britânico disse que não há acordo sobre tal iniciativa neste momento.
"Será um fracasso para o mundo inteiro se a Ucrânia for forçada a um cessar-fogo sem garantias sérias de segurança", disse Zelensky à imprensa em Londres no domingo.
"Vamos imaginar que numa semana [após uma possível trégua], os russos começam a matar-nos novamente e nós reagíssemos, o que seria totalmente compreensível. O que aconteceria?", acrescentou.
Zelensky citou como exemplo o cessar-fogo no leste da Ucrânia entre 2015 e a invasão russa em fevereiro de 2022.
"Os russos dirão a mesma coisa que disseram há dez anos, que foram os ucranianos que violaram o cessar-fogo. Apresentamos provas de que foram eles. E quem irá beneficiar? Os russos e jamais nós, os Estados Unidos, o presidente americano, ou os nossos colegas europeus", disse.
Também disse que não seria fácil substituí-lo como presidente ucraniano, apesar dos apelos do governo americano para a sua saída.
Rússia contém o avanço
Convidados pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, quinze líderes europeus expressaram no domingo estarem comprometidos em apoiar Kiev e rearmar-se contra a Rússia.
No terreno, a guerra iniciada pela Rússia há três anos continua a causar mortes e destruição.
O líder do Exército ucraniano, Oleksander Sirski, disse esta segunda-feira que um "míssil balístico Iskander-M com bombas de fragmentação" atingiu uma base do Exército na região de Dnipropetrovsk no sábado, a mais de 100 km da linha de frente e deixou "mortos e feridos".
Segundo um blogue militar ucraniano, entre 30 e 40 soldados foram mortos no ataque, e até 90 ficaram feridos.
Enquanto isso, as tropas russas avançaram menos em fevereiro do que nos meses anteriores, segundo dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), sediado nos EUA.
O Exército russo ocupou 389 km2 em fevereiro, após ter conquistado 431 km2 em janeiro, 476 km2 em dezembro e 725 km2 em novembro.
As tropas de Moscovo atualmente avançam em direção a Pokrovsk, cidade logisticamente importante na região de Donetsk.
Europa precisa de 300 mil militares e 250 mil milhões por ano para defesa sem EUA
O cenário de a Europa ficar sozinha na sua defesa sem os Estados Unidos representaria um esforço adicional de cerca de 300 mil militares e um gasto de 250 mil milhões de euros anuais, segundo um estudo hoje divulgado.
Uma análise dos 'think tanks' Bruegel e do Instituto Kiel apresentou números sobre o significado para os países europeus - incluindo a União Europeia e o Reino Unido - assumirem sozinhos a defesa, após o regresso do republicano Donald Trump à liderança dos Estados Unidos e da sua aproximação a Moscovo para terminar a guerra na Ucrânia, ultrapassando os interesses de Kiev.
O número de militares estimado é o resultado da retirada da equação dos cerca de cem mil efetivos que os Estados Unidos mobilizaram para o continente europeu e dos 200 mil que Washington calcula que poderia rapidamente destacar em caso de ataque da Rússia contra um membro da NATO.
De acordo com o documento consultado pela agência Europa Press, o aumento do número de tropas deveria concentrar-se em "forças mecanizadas e blindadas para substituir as unidades pesadas dos Estados Unidos" e resultaria em 50 novas brigadas europeias.
Além do recrutamento e formação de 300 mil soldados, seriam precisos, segundo as estimativas dos institutos belga Bruegel e alemão Kiel, pelo menos 1.400 tanques e 2.000 veículos de infantaria, excedendo em muito o 'stock' atual da soma das forças terrestres da Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
A Europa também necessitaria de produzir cerca de duas mil munições de longo alcance por ano para combater as capacidades da Rússia.
O estudo destaca que, até 2024, Moscovo terá aumentado a sua produção de tanques em 220%, de veículos blindados em 150% e de munições de longo alcance em 435%.
A estimativa inicial do documento dos 'think tanks' belga e alemão aponta para gastos adicionais com a defesa de cerca de 250 mil milhões de euros anuais no curto prazo, passando de cerca de 2% do PIB atual para 3,5%.
"Mesmo que a escala seja inicialmente considerável, em termos económicos é controlável em relação à força económica da UE", sublinha Guntran Wolff, um dos autores da análise e membro do Instituto Kiel.
Os custos adicionais equivaleriam apenas a cerca de 1,5% do PIB da UE e menos do que custou enfrentar a pandemia de covid-19, notou.
Wolff chama ainda a atenção para a capacidade da Rússia de alcançar potencial militar para atacar estados da UE nos próximos três a dez anos.
"Por isso, devemos classificar isto como um perigo real", defende o especialista, que acredita que esta é mais uma razão para a Europa tentar "impedir uma vitória russa na Ucrânia".
No entanto, os autores da análise alertam para o grande desafio de falta de coordenação militar entre os países europeus.
Segundo dados do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI), em 2024, os países europeus - os 27 da União Europeia mais o Reino Unido - tinham 1,47 milhões de militares nas suas forças armadas, mas, de acordo com a análise de Bruegel e Kiel, não existe um comando unificado para os coordenar.
"Se cada país tentar defender-se sozinho, vai custar mais", alerta Wolff, comentando que "a segurança individual é mais cara do que a segurança coletiva" e que, nesse sentido, "uma coordenação mais estreita e a aquisição conjunta [de armas] são essenciais".
Os dois 'think tanks' defendem ainda que os 250 mil milhões de euros necessários "poderiam ser divididos igualmente entre as despesas nacionais e da UE, facilitando tanto aquisições conjuntas substanciais como despesas militares nacionais".
*Com AFP e Lusa
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