Coisas que precisa de saber.
Em primeiro lugar: a lei britânica diz que só podem ser membros do Governo aqueles que forem eleitos como membros do Parlamento. Isto é, se os conservadores vencerem as eleições gerais, mas Johnson perder o seu ‘lugar’, constitucionalmente o país estará em “águas desconhecidas” — expressão da BBC.
Em segundo lugar: tudo parece encaminhado a nível nacional, sendo o quadro favorável à vitória dos conservadores, mas Boris Johnson pode ter uma surpresa no seu círculo e não conseguir a reeleição pela região de Uxbridge e South Ruislip.
Em terceiro lugar: o principal adversário de Boris Johnson no seu círculo é o trabalhista Ali Milani, um jovem de 25 anos.
Tudo somado, é material para uma sitcom britânica, mas poderá não fazer rir muita gente.
Nas eleições gerais, os eleitores do Reino Unido são convidados a escolher um membro do parlamento (MP, na sigla em inglês) para representar o seu distrito eleitoral — são 650 no total, com cerca de 80 mil eleitores em cada.
O candidato com mais votos em cada distrito eleitoral é eleito para a Câmara dos Comuns.
Na última eleição geral, em 2017, Johnson venceu a sua disputa por apenas 5.034 votos. Se os trabalhistas conseguirem mudar os votos de apenas 5% do eleitorado, o primeiro-ministro pode enfrentar problemas.
Johnson está na corrida para ser eleito deputado pelo distrito de Uxbridge e South Ruislip, outrora considerado "seguro" para os conservadores, onde enfrenta mais quatro candidatos, sendo principal adversário de Johnson o trabalhista Ali Milani. O jovem muçulmano, que reside no subúrbio ao contrário de Johnson, acredita que a sua proximidade com os moradores é uma vantagem.
“Aqui, temos o poder de deter Boris Johnson”, disse Milani numa entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post em novembro.
Jovens podem ter a última palavra na 'disputa em casa'
Mas pode haver mais elementos decisivos, um deles é o rejuvenescimento demográfico da zona nos últimos anos. De acordo com a BBC, o sul do distrito eleitoral é dominado por uma grande população estudantil, centrada na Universidade de Brunel. Este dado é importante. Porque, acrescenta a publicação, a Universidade tem uma população de quase 10.000 eleitores em potencial e os estudantes têm a opção de votar no círculo eleitoral de origem ou de se registar para votar na universidade.
“Imagina que com este voto consegues mudar a História. Talvez até contribuir para a continuidade do projeto europeu. É esse campeonato que se joga em Uxbridge”, disse Muskta Ahmad, de 20 anos, estudante de Ciência Política na Universidade de Brunel, ao Expresso aquando de uma vista do semanário ao distrito.
É com esse intuito que grupos de jovens ativistas, com idades na casa dos vintes, se têm mobilizado. São oriundos da região, mas não só. Muitos deles têm ido de outras zonas do país para Uxbridge e South Ruislip exclusivamente para fazer campanha, quase porta a porta, contra Boris Johnson. O The Guardian dá conta da existência de pelo menos dez grupos, entre eles o FCK Boris, o Grime4Corbyn ou o coletivo Youth Can.
"Johnson é a pessoa mais responsável por nos tirar a esperança", disse o porta-voz do Youth Can à publicação britânica. “Precisamos de nos livrar de Johnson, mas o que é importante lembrar é que podemos (...) Está nas mãos da juventude", acrescentou.
Está, portanto, tudo em aberto. Caso Johnson pode ser obrigado a abrir mão do cargo de primeiro-ministro, caso perca o seu lugar como deputado por Uxbridge e mesmo que os conservadores vençam as eleições gerais. Mas o cenário não é claro, já que tal nunca aconteceu na história da democracia inglesa.
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