De acordo com relato feito hoje à agência Lusa por Alexandra Camacho, dos “Amigos de Miramar” – grupo de residentes que tem vindo a pedir alterações ao projeto, “após várias reuniões nas quais a Junta de Freguesia [de Arcozelo] teve um papel fundamental e a Câmara Municipal de Gaia mostrou sensibilidade, foi possível chegar a uma solução que reflete menor impacto”.
Os “Amigos de Miramar” lançaram, entre outras medidas, uma petição pública com o título "Não Destruam Miramar: Não ao Túnel", que, pelas 18:00 de hoje contava com 2.310 subscritores.
Também a Câmara de Gaia, contactada pela Lusa, confirmou hoje que decorreram recentemente várias reuniões e que comunicou já à IP a aprovação da nova solução pelos moradores e pela Junta de Freguesia, tendo ainda solicitado à empresa novas informações sobre prazos de obra, bem como condições de circulação alternativas.
A agência Lusa contactou a IP para solicitar mais detalhes sobre as alterações, mas até ao momento não obteve resposta.
Em causa está a renovação do troço entre Espinho e Vila Nova de Gaia da Linha do Norte, que foi adjudicada por 55,3 milhões de euros, depois de ter recebido visto do Tribunal de Contas, conforme a IP tornou público em julho.
Os trabalhos de modernização deste troço entre Espinho (Aveiro) e Vila Nova de Gaia (Porto) incluem obras na zona de Miramar, mas algumas características da obra chocaram os moradores e utilizadores da zona.
No centro da empreitada está a construção de um túnel na Avenida Vasco da Gama, artéria conhecida pelos plátanos centenários que ladeiam a zona de circulação a carros e peões.
Originalmente a IP previa construir um túnel de 5,5 metros de altura, mas entretanto com a revisão do projeto, este será de cerca de quatro, o que encurta automaticamente a extensão deste acesso tanto no início como no final do mesmo.
“As entradas do túnel foram encurtadas o que permite preservar alguns dos plátanos existentes, se não a maioria. Naturalmente alguns dos plátanos têm de ir abaixo, mas apenas no curso do túnel. A grande mancha [verde] vai ser preservada”, disse à Lusa, Alexandra Camacho.
Já na sua página de Facebook, o grupo “Amigos de Miramar” sublinha que “também o projeto de superfície foi revisto, não contemplando agora faixas de rodagem [apenas espaço para circulação de peões e acesso local], que permitirá reimplantação de árvores ao longo do segmento do túnel, com preservação das restantes”.
Ao longo dos últimos meses, este grupo também mostrou preocupação com os acessos a equipamentos e estabelecimentos de uso público localizados na ou junto à Avenida Vasco da Gama, nomeadamente a farmácia local e a Escola Básica de Miramar, tendo hoje Alexandra Camacho descrito à Lusa “ter o compromisso de que os equipamentos serão salvaguardados”.
“A obra que estava pensada anteriormente privilegiava os carros e o cimento, mas vão estreitar as laterais e o acesso será para moradores, privilegiando os peões”, disse a moradora, voltando a enaltecer o papel das autarquias locais nesta discussão e a destacar a intervenção do professor catedrático Paulo Pinho.
“Mostrou no local, ao vivo e a cores, o que de um gabinete em Lisboa não é possível ver. Não estamos contra o progresso, nem a segurança. Somos um grupo de pessoas que utilizou as ferramentas de que dispõe, trabalhamos com uma atitude construtiva. Com boa vontade é possível deixarmos de ser pacíficos revoltados, e sermos uma comunidade que se une e pensa”, resumiu a moradora de Miramar.
A 03 de julho, altura em que o grupo “Amigos de Miramar” intensificou a divulgação da petição pública e pediu reuniões às várias autoridades locais, em resposta à Lusa, a IP esclareceu que a criação de um túnel em Miramar visa reduzir o “risco de acidentes”, admitindo que seria necessário remover árvores, mas garantindo que “o projeto prevê a reposição de todas as árvores retiradas, bem como o arranjo paisagístico de toda a zona envolvente, numa perspetiva de minimização efetiva dos impactes associados a esta importante intervenção”.
Este tema também já gerou dúvidas e perguntas de partidos políticos como o BE de Gaia, num requerimento datado de 08 de junho e dirigido à Assembleia Municipal, a contar que pediu a consulta do processo à IP, sublinhando, no entanto que é da Câmara que espera “o cumprimento da função informativa, na medida do seu estatuto de representação e defesa dos cidadãos do Município”.
Já a concelhia do CDS-PP de Gaia defendeu, a 14 de julho, a apresentação pública do projeto de construção de passagens desniveladas na Linha do Norte em Miramar, pedindo “mais transparência” à autarquia.
A 04 de fevereiro do ano passado, questionado por um munícipe numa reunião pública, o presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, reconheceu que o projeto criaria “em alguns sítios um modelo de acessos e um modelo urbanístico diferente, com consequências positivas e negativas”.
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