“O Governo está a criar um conjunto de casos que tem como único fundamento substituir pessoas que sejam mais politicamente alinhadas, mais domesticáveis pelo Governo PSD”, sustentou o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS Tiago Barbosa Ribeiro numa declaração aos jornalistas na sede dos socialistas no Porto.

Para o deputado socialista, é "isso que está em causa nestas e noutras atitudes, como foi o caso da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

Segundo Tiago Barbosa Ribeiro, o Governo de Luís Montenegro tem, desde que tomou posse, “encontrado subitamente problemas que não eram identificados” num conjunto de dirigentes que são “inquestionavelmente bons dirigentes e bons gestores públicos”.

Esses problemas parecem mais relacionados com a filiação partidária dos mesmos do que propriamente com a sua competência técnica para gerir as instituições, vincou.

Por isso, o socialista classificou a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de “profundamente radical, inusitada e preocupante”.

Na sua opinião, a decisão é inusitada porque Ana Jorge estava em funções há apenas um ano e tinha em mãos um processo de reestruturação e de reequilíbrio financeiro da instituição, logo “nada fazia prever uma decisão desta natureza”.

Tiago Barbosa Ribeiro considerou que a exoneração é “profundamente radical” porque o Governo encontra um conjunto de falsos argumentos para demitir, de um momento para o outro, toda a direção da Santa Casa da Misericórdia.

E é ainda preocupante porque revela um padrão de atuação do Governo liderado por Luís Montenegro que está a encontrar um conjunto de pretextos para “de forma intempestiva” substituir um conjunto de dirigentes nas diferentes instituições do Estado, “procurando domesticá-las e lá colocar pessoas politicamente alinhadas com o Governo”, ressalvou.

O vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS revelou que o partido entregou na segunda-feira, na Assembleia da República, um requerimento para ouvir com caráter de urgência a agora antiga provedora da Santa Casa da Misericórdia e a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Na segunda-feira, o Governo anunciou ter exonerado "com efeitos imediatos" a administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Já hoje, o executivo de Luís Montenegro acusou a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e os elementos da Mesa de “atuações gravemente negligentes” que afetaram a gestão da instituição, justificando desse modo a exoneração.

De acordo com o despacho hoje publicado em Diário da República (DR), que, no caso de Ana Jorge é assinado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, e pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, toda a atual equipa de gestão da SCML termina as funções a partir de hoje.

Ana Jorge tomou posse em 02 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.