Em entrevista à agência Lusa a propósito da primeira Convenção Nacional do CEN que se realiza no sábado, em Santa Maria da Feira (Aveiro), o também vice-presidente do PSD salientou que este órgão de consulta da direção foi criado para atrair quadros para o PSD e também para construir de forma diferente o programa eleitoral do partido, que deverá ser apresentado em junho.
“O que pretendemos é que o programa de Governo, o programa eleitoral, possa ser a expressão da vontade do partido e não a expressão da vontade do candidato A ou B, do líder A ou B”, defendeu.
Para Justino, o facto de o programa eleitoral do PSD resultar dos contributos das várias secções temáticas do CEN – 16 no total – dá-lhe “força e sustentabilidade”, uma vez que os documentos que são produzidos neste órgão “não aparecem da cabeça de três ou quatro sábios, mas da vontade de militantes e simpatizantes” que têm estado a colaborar.
“Nós não queremos uma proposta apresentada à sociedade, queremos uma proposta construída com a sociedade, que é uma coisa completamente diferente”, afirmou.
Por outro lado, garantiu, “vai ser um programa eleitoral de centro, com margens que vão da esquerda à direita”.
“Há soluções que não são de esquerda, nem de direita, são do país”, defendeu, considerando que, “se as ideologias são úteis”, o PSD é sobretudo um partido “pragmático e realista”.
Duas ideias que Justino apontou como centrais no programa eleitoral do PSD serão a proteção dos setores mais vulneráveis da sociedade, salientando que “continua a haver mais de dois milhões de pessoas no limiar da pobreza”, e uma atenção especial à classe média.
“O PSD é um partido de mobilidade social, que aposta claramente na valorização das pessoas. Os mecanismos de mobilidade ascendente são mecanismos que estão fechados. A ideia que o PSD sempre corporizou que as pessoas querem fazer melhor pelo seu pais e subir na escala social é uma ideia que temos de recuperar”, defendeu.
O vice-presidente do PSD salientou que, nas últimas décadas, a classe média tem sido “fortemente fustigada”, nomeadamente a nível dos impostos, acusando o Governo de criar “uma ilusão fiscal” ao aumentar os impostos indiretos.
“É preciso apostar na equidade fiscal e não na ilusão fiscal, e aí falo em equilíbrio entre impostos diretos e indiretos, tentando alargar a base fiscal”, afirmou, escusando-se a adiantar em concreto como é que o PSD pretende fazer essa mudança.
Depois de já ter divulgado documentos estratégicos em cinco áreas – política para a infância, reforma da zona euro, ensino superior, saúde e fundos estruturais -, David Justino assegurou que o ritmo se vai intensificar nos próximos dois meses, com novos textos em áreas como a defesa, relações internacionais, professores ou agricultura.
Quanto ao documento sobre Justiça – que nunca foi divulgado publicamente com o objetivo de tentar acordos com os restantes partidos, a quem foi distribuído no verão -, David Justino afirmou que o PSD continuou “a trabalhar e a melhorar as suas propostas”, admitindo que “é difícil haver consensos quando se aproximam eleições”.
“É natural que muito proximamente possamos tornar públicas algumas propostas mais concretas, sendo que a maior parte delas aparecerão só no programa de governo”, acrescentou, salientando que o PSD não pode “estar à espera de quem não quer fazer reformas”.
Questionado sobre a razão de não transformar estas ideias em iniciativas legislativas, David Justino invocou a atual conjuntura política e com o facto de haver medidas que “só são concretizáveis no Governo”.
“Existe uma maioria de esquerda que não está interessada nestas soluções e as iniciativas morrem. Podíamos fazer muito barulho, mas o ganho efetivo dessas iniciativas seria muito reduzido”, defendeu.
O vice-presidente do PSD assegura que a marcação da iniciativa do CEN para o mesmo dia da convenção europeia do PS foi uma coincidência, até porque o objetivo da data foi assinalar a passagem de um ano sobre o Congresso que elegeu a atual direção.
“A convenção será um marco, na perspetiva em que encontrámos uma solução organizativa que vai para além do que era a organização tradicional, mais virada para a sociedade, mais recetiva a incorporar anseios, ambições, conhecimento e experiência da sociedade. Criámos a ideia de que não basta fazer oposição, é necessário criar alternativa”, defendeu.
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