A operação "Água Pesada", a 26 de novembro de 2020, teve como alvo Moshen Fakhrizadeh, físico, cientista e oficial da Guarda Revolucionária iraniana cuja identidade foi revelada pela primeira vez pelo chefe do executivo de Israel, Benjamin Netanyahu em 2018, no Knesset, o parlamento israelita.
"Eu fui reunindo mais informação sobre a operação contra o líder do programa nuclear iraniano. A relevância desta ação foi a colaboração aberta entre os Estados Unidos e a Mossad. Foi uma decisão de Donald Trump, após numa reunião com o conselheiro para a Segurança Nacional e com a diretora da CIA, Gina Haspel", disse à Lusa Eric Frattini, autor do livro "Mossad - Os Carrascos do Kidon", publicado recentemente em Portugal com uma nova edição pela Bertrand Editores.
Frattini frisa que os serviços de informações dos Estados Unidos "não podiam matar" Moshen Fakhrizadeh porque - durante o mandato dos presidentes norte-americanos George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump - mudou a estrutura e a doutrina do "sistema de espionagem" com o incremento das informações via satélite em detrimento do trabalha no terreno.
"Deste modo, a CIA forneceu informações e a Mossad ocupou-se de levar a cabo a operação contra o líder do programa nuclear iraniano", refere Frattini.
O veículo em que seguia Moshsen Fakhrizadeh nos arredores de Teerão foi alvo de um ataque com dois carros armadilhados tendo o cientista iraniano sido transportado para um hospital onde acabou por morrer devido aos ferimentos.
No livro, Frattini relata os detalhes sobre a obtenção de informações e a preparação do ataque em território iraniano contra o cérebro do AMAD ("esperança em farsi), o nome de código do programa de armas nucleares do Irão.
"Supostamente, a identidade do verdadeiro líder do AMAD foi confirmada à CIA por Masoud Molavi Vardanjani, que tinha trabalhado durante vários anos como agente de cibersegurança no Ministério da Defesa do Irão", escreve Frattini no último capítulo do livro.
Para o investigador espanhol de origem peruana, o programa nuclear iraniano continua a preocupar os Estados Unidos e Israel e "enquanto assim for", a CIA e a Mossad vão continuar a ter as instalações e os cientistas iranianos no "ponto de mira".
Ao longo de mais de 500 páginas o autor, antigo correspondente de vários jornais no Médio Oriente, recorda a doutrina "dos assassinatos seletivos" contra os "inimigos" de Israel recordando as operações contra o criminoso de guerra nazi Adolf Eichman, em 1960, a Operação "Ira de Deus" contra o Setembro Negro, sobretudo entre 1972 e 1973, na sequência dos ataques contra a equipa israelita nos Jogos Olímpicos de Munique.
O livro detalha igualmente operações mais recentes dos serviços de informações de Israel contra alvos no Líbano, Síria e no Irão expondo as relações entre israelitas e norte-americanos que, de acordo com o investigador, não vão alterar-se, apesar das mudanças políticas em Washington com a eleição de Joe Biden como chefe de Estado.
"Não vai mudar nada. Vai continuar tudo na mesma. A administração norte-americana que mais operações executou no Médio Oriente foi a administração (democrata) de Barack Obama e Joe Biden era vice-presidente. Usaram sanções na região: contra o programa químico sírio, contra a tentativa de construção de um reator nuclear na Síria, por exemplo", disse Eric Frattini.
"Para Biden quem pode executar operações no Médio Oriente de forma eficaz é a Mossad. O diretor dos serviços israelitas já manteve várias reuniões em Washington recentemente. Por isso, creio que vai manter-se uma estreita comunicação entre Israel e os Estados Unidos, neste contexto", sublinha o investigador.
O livro "Mossad - Os Carrascos do Kidon" (Bertrand Editora, 526 páginas) incluiu na reedição portuguesa um prefácio de Filipe Pathé Duarte, professor de Geopolítica e Segurança Internacional.
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