O pedido do Governo de Kinshasa para acelerar a retirada dos “capacetes azuis” foi feito recentemente pelo ministro congolês dos Negócios Estrangeiros, Christophe Lutundula, numa carta ao Conselho de Segurança da ONU para abordar o processo de retirada, anunciado em 2018 e aprovado em 2021, segundo a rádio congolesa Okapi.
O processo de retirada das forças militares da Missão das Nações Unidas na RDCongo (MONUSCO) acordado e aceite por Kinshasa devia ser “escalonado, responsável e duradouro”.
O ministro citou como razões para o pedido agora apresentado o agravamento da situação de segurança no leste do país, onde os “capacetes azuis” estão destacados há 25 anos, bem como a deterioração da situação humanitária nesta região da RDCongo.
Lutundula referiu-se também às tensões locais, incluindo o recomeço das operações do grupo rebelde Movimento 23 de março (M23), e sublinhou a “incapacidade” da MONUSCO para proteger a população civil, no meio de uma “deterioração da confiança” entre os civis e os militares.
Nesta linha, o ministro indicou a morte de mais de 40 pessoas durante a repressão de um protesto no final de agosto na capital da província de Kivu do Norte, Goma, contra as Nações Unidas e outras organizações internacionais presentes na zona.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos demonstrou estar, sexta-feira, “extremamente alarmado” com o que aconteceu durante o protesto, convocado por um grupo armado local conhecido como Wazalendo (“patriotas” em francês), e apelou a uma investigação “completa, efetiva e imparcial” por parte das autoridades.
Entretanto, a Comunidade da África Oriental (CAO) aprovou, numa cimeira realizada esta terça-feira, o prolongamento do destacamento da sua força militar no leste da RDCongo, país vizinho de Angola, apesar das exigências dos manifestantes para a sua retirada.
Os chefes de Estado do bloco, que inclui o Burundi, o Quénia, a RDCongo, o Ruanda, o Sudão do Sul, a Tanzânia e o Uganda, reuniram-se em Nairóbi, no Quénia, e destacaram os “marcos operacionais” alcançados “para a restauração da segurança no leste da RDCongo” e concordaram em prolongar até dezembro o mandato da força militar, que deveria terminar a 08 de setembro.
A força regional foi destacada para o leste da RDCongo em novembro de 2022 para ajudar as forças armadas congolesas na sua luta contra os grupos rebeldes, incluindo o M23, cujas operações levaram a um aumento das tensões entre a RDCongo e o Ruanda devido à alegada colaboração de Kigali com o M23.
O Ruanda, que acusa a RDCongo de cooperar com um grupo rebelde, as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundado por líderes do genocídio de 1994 e por outros ruandeses exilados na RDCongo para recuperar o poder político no seu país natal, sempre negou este facto, apesar de vários relatórios da ONU o confirmarem.
Desde 1998 que o leste da RDCongo tem estado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da MONUSCO.
A ausência de alternativas e de meios de subsistência estáveis levou milhares de congoleses a pegar em armas e, segundo o Barómetro de Segurança de Kivu (KST), o extremo leste da RDCongo é um campo de batalha para mais de uma centena de grupos rebeldes.
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